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À espera de falência, empresas não disputaram Varig, diz Infraero

"A primeira regra de mercado diz que, se você pode obter algo de graça, não vai pagar por isso", disse presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira

Por Agencia Estado
Atualização:

As grandes empresas aéreas não fizeram nenhuma proposta para comprar a Varig porque uma eventual falência da empresa levará à redistribuição das linhas hoje operadas por ela. Essa é a teoria do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. "A primeira regra de mercado diz que, se você pode obter algo de graça, não vai pagar por isso", disse ele à Agência Estado. "Se a oferta da TGV não for aceita, e o juiz decretar a falência da Varig, tudo vai cair no colo das empresas por um preço infinitamente menor do que o pedido no leilão." Ele informou que, do ponto de vista da Infraero, na atual conjuntura, "qualquer oferta maior do que zero é boa", referindo-se à oferta de US$ 449 milhões (cerca de R$ 1,010 bilhão) feita pela TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), que reúne funcionários da companhia aérea. O brigadeiro tem dúvidas, porém, se esse seria o melhor desfecho para o contribuinte brasileiro. Segundo Pereira, a Varig deve R$ 540 milhões à Infraero, além de haver-se apropriado indevidamente de outros R$ 27 milhões. Concorrência baixa O sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pela reestruturação da Varig, Marcelo Gomes, concorda com a avaliação da Infraero. Ele disse que esperava mais concorrência no leilão realizado esta manhã. Por outro lado, ele avaliou que a falta de lances das duas maiores concorrentes da companhia aérea, TAM e Gol, pode fazer parte de uma estratégia para ficar com as rotas da companhia. "Para a TAM e para a Gol é melhor a falência do que comprar a Varig, pois assim elas ganhariam as rotas sem pagar nada", afirmou. Gomez disse que esperava que, assim que o primeiro investidor apresentasse uma proposta, todos os demais interessados acompanhariam o lance inicial, o que não acabou acontecendo. O ministro da Defesa, Waldir Pires, lamentou a baixa concorrência no leilão da Varig. "Fizemos o que foi possível. Confesso que esperava um pouco mais de disputa, porque as sinalizações foram muito abertas e constantes no sentido da existência de interessados na Varig", afirmou. "Acho que a vontade da gente era acreditar que esta gente (as empresas que haviam manifestado suposto interesse) estava dizendo a verdade", lamentou.O ministro informou que ainda não conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do leilão. A TAM informou, em nota, que fez uma avaliação detalhada do risco e do retorno sobre um possível investimento na Varig e depois optou por não fazer um lance no leilão de hoje. De acordo com a companhia, ela mantém a estratégia de "crescimento orgânico e constante". Considerada a empresa favorita para comprar a Varig, a Ocean Air também não participou do leilão. O presidente da Ocean Air, Carlos Ebner, alegou "falta de tempo" para que a companhia pudesse estruturar uma proposta pelo controle da empresa. A Ocean Air era tida como uma das favoritas, porque o seu dono, o empresário German Efromovich, negociou intensamente nos últimos dias com autoridades do governo e da Justiça garantias para entrar no leilão sem correr o risco de herdar dívidas da Varig. O presidente da Varig, Marcelo Bottini, se mostrou satisfeito com o fato de pelo menos uma empresa ter apresentado proposta. Segundo ele, para que a Varig continue operando seria preciso um aporte de US$ 100 milhões. O modelo de venda formatado para a Varig prevê que o comprador injete nas primeiras 72 horas US$ 75 milhões na companhia e mais US$ 50 milhões no curto prazo se for necessário. Segundo ele, os investidores que se credenciaram para participar do leilão estavam mais preparados para fazer oferta no pregão de viva voz. Mas como foi apresentada uma proposta em envelope fechado, o leilão não chegou à etapa do pregão viva voz. 24 horas O juiz responsável pela recuperação judicial da Varig, Luiz Roberto Ayoub, tem agora 24 horas para analisar a oferta do TGV. Ele já descartou a possibilidade de ser realizado um novo leilão pela Varig, caso a proposta não seja validada. O TGV entregou proposta para compra de toda a companhia aérea por uma valor inferior ao preço mínimo estabelecido. Ele descartou também a falência da empresa, mesmo que a proposta não seja aceita. Segundo ele, apesar de a lei de recuperação judicial determinar a falência, o juiz pode interpretar que ainda existe viabilidade financeira para a companhia continuar operando. Ayoub esclarece que a Varig é uma empresa viável e que sofre de um problema de curto prazo. Proposta do TGV A oferta do TGV foi feita na segunda etapa do leilão, quando não há um preço mínimo para ofertas. Na primeira etapa, em que os lances deveriam ser de valor igual ou superior ao preço mínimo fixado tanto para a companhia inteira (US$ 860 milhões) como para a parte doméstica (US$ 700 milhões), não houve apresentação de nenhuma proposta. Durante uma entrevista coletiva realizada no hangar da empresa no aeroporto Santos Dumont, onde foi realizado o leilão, o juiz fez questão de não tecer qualquer comentário sobre o teor da proposta do TGV. "Não posso ser leviano e dizer algo que ainda não estudei (...). Dizer o que vai acontecer agora seria no mínimo uma grande leviandade", disse Ayoub, ao se mostrar contente de ter aparecido pelo menos uma proposta no leilão de hoje. "Não concebo pensar em rejeitar uma proposta assim que ela foi apresentada", afirmou, ao ser questionado sobre as características da oferta. O valor ofertado pelos trabalhadores da Varig corresponde a um deságio de 47,8% sobre o mínimo proposto na primeira fase do leilão, que era de US$ 860 milhões. A proposta do TGV equivale a R$ 1,010 bilhão. Desse total, R$ 225 milhões serão pagos em créditos concursais e extra-concursais, R$ 500 milhões em debêntures da nova companhia e R$ 285 milhões em dinheiro.

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