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A estratégia japonesa para vencer a crise

Por Ethevaldo Siqueira
Atualização:

Apostar cada dia mais em inovação tecnológica e na colaboração entre empresas operadoras e fornecedores é a estratégia japonesa para estes novos tempos de crise econômica mundial. Como em todo o mundo desenvolvido, a inovação tem sido prioridade do desenvolvimento tecnológico e econômico japonês. A novidade é esse novo tipo de colaboração - que entusiasma os executivos japoneses - como sinônimo de esforço solidário que se amplia entre operadoras, governo e indústria, diante dos desafios da crise econômica mundial. "Grandes operadoras de telecomunicações, como a NTT - concessionária dominante de telefonia fixa e móvel - passam a trabalhar em conjunto com a indústria, colaborando não apenas no desenvolvimento de novas plataformas, mas, em especial, de novos serviços. Felizmente, a maioria das grandes operadoras de telecomunicações no mundo não prevê reduzir seus investimentos em 2009" - diz Botaro Hirosaki, vice-presidente executivo da NEC Corporation, que visitou o Brasil na semana passada. Com a retração econômica mundial e a valorização do iene, Hirosaki reconhece as dificuldades do novo cenário para a economia japonesa e, em especial, para suas indústrias exportadoras. Mas o executivo japonês não revela nenhum pessimismo e defende a estratégia de que a crise cria novas oportunidades, permitindo que a indústria de telecomunicações se volte mais para o mercado interno, durante algum tempo, para fazer avançar o processo de informatização da sociedade japonesa. AVANÇOS O Japão tem um dos sistemas de telecomunicações mais avançados e modernos do mundo. De seus 104 milhões de celulares em serviço, 82% são de terceira geração (3G) e operados por 4 empresas: NTT DoCoMo, KDDI, SBM e e-Mobile. À exceção da última, as outras três já oferecem serviços com velocidade de 7,2 Megabits por segundo (Mbps), de acesso sem fio por pacotes de alta velocidade (High Speed Packet Access ou HSPA). O país foi o primeiro do mundo a implantar a 3G, em 2001. Atualmente, um dos serviços de maior sucesso na área da telefonia móvel é a carteira eletrônica ou carteira virtual móvel (mobile wallet). Com esse serviço, o celular se transforma em meio de pagamento mais rápido e seguro do que os cartões de crédito. O Japão já prepara a transição para a quarta geração do celular (4G), num horizonte de 2 a 3 anos, com o salto das velocidades de transmissão para a casa de 100 Mbps. "Essas velocidades - diz Hirosaki - equivalem à velocidade proporcionada pelo acesso via fibras ópticas. Não teremos que nos preocupar em saber se estamos fazendo uma comunicação sem fio ou via cabo. É um exemplo concreto de integração fixo-móvel. Imagine, então, quantos novos serviços de vídeo, TV digital, alta definição e videoconferência poderemos ter com velocidades da ordem de centenas de Megabits por segundo. Ou ainda para uma nova geração de serviços de internet, entre os quais os de cloud computing (computação na nuvem)." REDES INTELIGENTES O grande salto japonês, entretanto, está na área de redes de banda larga. As três maiores redes que servem aos domicílios do país são: redes digitais de assinante (Digital Subscriber Line ou DSL), com 12,7 milhões de assinantes; fibra óptica em domicílio, do tipo Fiber to the Home (FTTH), com 12,2 milhões de domicílios; e TV a cabo convencional, com 3,8 milhões de assinantes. Para reduzir boa parte da capacidade ociosa de transmissão de suas redes de fibras ópticas, o Japão está desenvolvendo um conjunto de novos serviços, como televisão sobre protocolo IP (IPTV) de alta definição, vídeo sob demanda (VoD, de Video on Demand) e teletrabalho. Segundo Hirosaki, o custo do aluguel de acesso de alta velocidade via fibra óptica no Japão é barato - da ordem de 500 ienes por mês, ou seja, de US$ 5 ou R$ 12. Essa é uma forma estimular o uso da fibra óptica e de sua elevada capacidade de transmissão. Na área empresarial, o Japão talvez seja o país com maior grau de utilização das redes de nova geração (NGN, de New Generation Network). A designação internacional NGN se refere a diferentes tecnologias associadas, podendo tanto referir-se a redes metálicas, de fibras ópticas, como sem fio ou híbridas. Não importa muito sua infra-estrutura, mas, sim, duas características básicas: todas as NGNs são redes inteligentes e utilizam o protocolo IP. Um dos exemplos de colaboração entre operadoras e indústria é a aliança estratégica que a NTT e a NEC têm nessa área de redes de nova geração (NGNs). A característica básica de uma rede inteligente é sua capacidade de oferecer novo tipo de gerenciamento e de utilização da informação por todos os players, bem como uma plataforma convergente que associa serviços e recursos de computadores e de comunicações. O grupo NTT, antigo monopólio estatal das telecomunicações, foi privatizado em várias etapas a partir de 1985. Sua participação no mercado japonês, contudo, ainda é muito elevada. Por isso, as autoridades reguladoras japonesas decidiram reestruturar a empresa em 2010, para permitir mais competição nas telecomunicações do país.

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