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A face ecumênica da Ata do Copom

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Por Redação
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Tem caráter ecumênico a Ata da reunião de 16 e 17 de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, em que foi decidido o aumento da taxa básica de juros de 7,25% para 7,5% ao ano.O texto mescla preocupações da hora com a inflação com a crença de que a economia voltará a crescer. E, com habilidade, trata da inflação "prospectiva" - leia-se, a inflação do ano que vem -, respaldando-se em que os efeitos de uma elevação, ou diminuição, do juro básico afetam a economia real com defasagem da ordem de nove meses.Para analistas preocupados com o risco inflacionário, a ata registra a inflação de 6,59% em 12 meses, até março, avalia que "o nível elevado de inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária", mas enfatiza que as incertezas internas e externas recomendam administração "cautelosa" da política monetária.Por isso, em contraste com as declarações do diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, que tem "a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária" (leia-se, maior aumento dos juros), os analistas acreditam que o juro básico subirá a conta-gotas, à razão de 0,25 ponto porcentual por reunião do Copom. Foi o que previram os economistas-chefes dos Bancos Itaú e Bradesco, após a divulgação da ata. A afirmação de que o Copom deve se manter "especialmente vigilante" não foi tida como indício firme de altas maiores.Um esforço especial dos redatores da ata foi feito com relação à política fiscal. O texto fala do "balanço do setor público em posição expansionista" - ou seja, o governo gasta mais. Mas o Banco Central trabalha com a hipótese de geração de superávit primário de R$ 155,9 bilhões, em 2013, e de R$ 167,4 bilhões, em 2014. Como superávits dessa magnitude parecem inviáveis, isso apenas evidencia a capacidade de contorcionismo do Banco Central.Mas a ata provavelmente não caiu no agrado da presidente Dilma Rousseff, ao destacar a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho, com o risco "significativo" de concessões de aumentos de salários "incompatíveis com o crescimento da produtividade", que repercutiria negativamente na inflação. O significado é claro: a baixa produtividade é incompatível com a política de aumento do consumo.

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