Aos poucos, o BTG Pactual e a Caixa Econômica Federal (CEF) vão limpando o passivo bilionário deixado pelos antigos donos do Panamericano e fazendo do agora Banco Pan uma instituição com ambições de banco de gente grande no longo prazo.
Ontem, a instituição aderiu ao programa Refis, do governo federal, e pagou R$ 536 milhões para eliminar uma disputa tributária com o Fisco e, de quebra, ter cerca de R$ 30 milhões na linha do lucro. Foi mais uma limpeza no balanço da instituição, que começa, a despeito de algumas críticas, a ter mais a cara de um banco que quer ganhar dinheiro emprestando dinheiro.
Desde que passou para as mãos dos novos donos, em 2011, o volume mensal de novos empréstimos vem crescendo a um ritmo de 30%. Em 2011, todo mês, o banco originava quase R$ 600 milhões. Agora, são R$ 1,12 bilhão por mês.
A carteira total dobrou de tamanho, chegando a R$ 14,2 bilhões no último trimestre. Ainda assim é pouco para sua capacidade de produção. O diretor de relações com investidores, Willy Jordan, gosta de dizer que o banco tem tamanho e estrutura para ter uma carteira de R$ 36 bilhões, ou seja, a renda da carteira de crédito ainda não paga os custos.
Se de um lado os novos empréstimos crescem a taxas elevadas em relação aos pares, a carteira de crédito não cresceu muito além da dos concorrentes nos nove primeiros meses deste ano.
Em parte, isso se explica por uma das estratégias adotadas para recuperar o banco: uma espécie de "cheque especial" com a Caixa, como definiu um acionista minoritário do banco na última reunião com investidores. Todo mês o banco vende parte dos seus créditos à Caixa, que assumiu o compromisso de comprar até R$ 8 bilhões. A medida foi necessária para fazer girar o capital do banco e melhorar o desempenho da instituição.
Resultado.
Mesmo assim, o lucro ainda não veio. No ano, a venda de créditos à Caixa gerou R$ 600 milhões de lucro ao Pan. Porém, no cômputo geral da instituição, o lucro líquido foi de apenas R$ 31 milhões em nove meses. De qualquer forma, um resultado bem mais promissor que o prejuízo de quase R$ 500 milhões do ano passado.
Jordan diz que, no terceiro trimestre, o banco poderia ter tido lucro se tivesse vendido mais créditos à Caixa, mas que a instituição preferiu fazer crescer sua carteira de crédito. "É importante termos um portfólio dentro do banco", diz ele.
Essa possibilidade de mudar números conforme vende créditos à Caixa é uma explicação para que o banco não dê nenhum "guidance" (projeção de resultado) ao mercado, o que gera críticas de analistas.
"Não é exatamente claro e ortodoxo", diz João Augusto Sales, da consultoria Lopes Filho. "Mas os novos donos são o governo e um importante banco privado que captam com menos custos e por prazos mais longos, o que é extremamente favorável para a rentabilidade futura".
Outra carteira herdada, que afeta os números, foi a de crédito cedido com coobrigação, que obriga o banco, mesmo tendo antecipado a receita, a ter capital para suprir esse crédito. Era de R$ 3 bilhões quando os novos donos assumiram; hoje, é de R$ 634 milhões.
Fechamento de lojas.
Rebolando aqui e ali, o banco vai tomando espaço, cortando custos e diversificando seu mix. O presidente do banco, José Luiz Acar, diz que uma das próximas medidas é reduzir de 110 para 80 o número de lojas Pan em função da sinergia com algumas lojas da Brazilian Finance and Real State. A BFRE foi comprada no ano passado por cerca de R$ 1 bilhão.
A estratégia era clara: entrar no crédito imobiliário. Essa modalidade será um dos pilares de crescimento do Pan, e o banco passou a ser o distribuidor preferencial da Caixa para a alta renda. O banco está originando R$ 113 milhões por mês desse crédito, contra R$ 40 milhões mensais no ano passado, toda ela repassada à Caixa.
Acar estima que o mix ideal da carteira será de 50% com veículos, 35% com crédito consignado e 12% para empresas com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 800 milhões. Desta forma, o Pan não entra no mercado do BTG e evita o mercado alvo da Caixa.