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''A febre diminuiu, mas o doente está mal''

Segundo Pastore, País deve criar entre 400 mil e 500 mil postos de trabalho este ano, 1 milhão a menos que em 2008

Por Renée Pereira
Atualização:

Os dados positivos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem nem de longe podem ser interpretados como sinal de recuperação do mercado de trabalho. Na avaliação do professor da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore, o saldo positivo na criação de postos de trabalho em fevereiro indica apenas que a "febre diminuiu, mas o doente continua mal". A seguir trechos da entrevista: Como o sr. vê o resultado positivo do Caged em fevereiro? Indica apenas que a febre diminuiu, mas o doente continua mal. Em fevereiro, o saldo foi de 9 mil novas vagas, mas, nos últimos três meses, perdemos quase 800 mil postos de trabalho. Qual a perspectiva para os próximos meses? A perspectiva não é muito animadora. Não estamos vendo a construção de novas fábricas, novas indústrias e expansões de plantas já existentes. Não estamos vendo o aumento dos investimentos do governo. Os investimentos estão anêmicos. Muitos desses investimentos estão atrelados à economia mundial, como os dos setores de mineração, metalurgia, veículos, celulose e açúcar. Não há nenhum sinal de retomada dessas atividades no panorama mundial. Se houver uma recuperação, será mais tarde, no segundo semestre. O que pode aliviar os impactos da crise no mercado de trabalho? O governo está prevendo um grande pacote habitacional. Isso ajudará muito, pois emprega um número grande de trabalhadores. Isso vai aliviar um pouco os impactos da crise. Os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também podem contribuir. O problema é que as obras estão atrasadas. Quais as projeções para 2009? Trabalho com um número entre 400 mil e 500 mil novos empregos formais. Isso significa 1 milhão de postos de trabalho a menos do que em 2008. Mas isso se o Produto Interno Bruto (PIB) for positivo e crescer em torno de 1%. Se o PIB for negativo, como alguns estimam, esse cálculo pode ir por água abaixo. A minha projeção é que a taxa de desemprego termine o ano em 9% (até janeiro estava em 8,2%).

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