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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A França, em tempo de decisão

Mais do que entre dois candidatos, são chamados a se pronunciar sobre o futuro da Europa e do euro, sobre o tratamento a ser dado ao processo de globalização e sobre a política de imigração

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Atualização:

Os franceses escolherão hoje seu novo presidente entre Emmanuel Macron, 39 anos, centrista do movimento Em Marcha!, e Marine Le Pen, 48 anos, de extrema direita, do partido Frente Nacional. Mais do que entre dois candidatos, são chamados a se pronunciar sobre o futuro da Europa e do euro, sobre o tratamento a ser dado ao processo de globalização e sobre a política de imigração.  A candidata da ultradireita nacionalista Marine Le Pen pretende solapar o atual sistema de integração monetária, inicialmente por meio da recriação do franco francês que operaria em duplicidade com o euro, sabe-se lá em que condições. Defende forte proteção à indústria – e certo fechamento da economia –, pretende estancar o processo de globalização e cercear a imigração.

Macron e Le Pen. Europa em jogo Foto:

A plataforma do liberal Macron prevê o fortalecimento da economia, das empresas nacionais e do emprego por meio do reforço aos fundamentos, num contexto de maior integração da Europa. Ainda que incorrendo em certo grau de simplificação, pode-se dizer que os franceses estão diante dos mesmos problemas que atingem muitos países do Ocidente. O maior deles é a decepção de boa parcela da população com o impacto da globalização sobre a renda. Para essa gente, o fechamento de indústrias locais, o achatamento dos salários e o desemprego estão diretamente ligados à abertura comercial que os obriga a comprar produtos chineses e a favorecer a criação de empregos na Ásia. Ou, então, tem a ver com o funcionamento da moeda única, o euro, que aumentou a competitividade do produto alemão e derrubou a do nacional. É a mesma síndrome que elegeu Donald Trump e levou os ingleses a votar pela saída do Reino Unido da União Europeia. Essa gente incorre em um punhado de equívocos. O maior deles é o de que o processo de globalização possa ser revertido. Dentro desse equívoco há outro, o de que os chineses e outros asiáticos sejam os maiores ladrões de empregos. Ao contrário do que afirmam as velhas esquerdas, o processo de globalização não é excludente. Nos últimos dez anos, incorporou nada menos que 400 milhões de asiáticos ao mercado de trabalho e de consumo, o que dá mais de uma Argentina por ano. Nesse sentido, foi inevitável certo impacto sobre o mercado de trabalho nos países industrializados. Porém, o maior fechador de postos de trabalho no Ocidente não é a “chinesada” nem os imigrantes vindos do Leste Europeu, do norte da África, do Oriente Médio e da América Latina, mas a crescente utilização da automação, de tecnologia da informação e da nova arrumação dos sistemas produtivos, altamente poupadores de mão de obra. E isso não tem volta atrás. Com os recuos previsíveis, também se pode esperar por crescente integração das economias e dos mercados cuja consequência também será a redução do emprego de mão de obra e relativa perda de soberania nacional.  A essas tendências, pode-se reagir como o touro enfurecido que ataca a capa vermelha que alguém agita à sua frente. Ou pode-se reagir com a razão, como a Alemanha, que aumentou a produtividade com mais eficiência do trabalho e redução de salários. Os franceses começam a deliberar sobre essas e outras questões novas, para eles ainda pouco claras.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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