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A fraqueza do dólar

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Por Celso Ming
Atualização:

Na semana passada, vários governadores do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) revelaram desconforto com a forte desvalorização do dólar nos mercados. Um dólar mais fraco, em princípio, ajuda a reverter o déficit nas contas externas dos Estados Unidos, da ordem de US$ 800 bilhões por ano, porque barateia o produto americano nas outras moedas. Em contrapartida, produz duas conseqüências ruins. Primeira: aumenta a inflação, porque exige pagamento mais alto em dólares pelos importados. Segunda: fragiliza o dólar enquanto moeda internacional de reserva. Uma desvalorização de 10% do dólar derruba, na mesma proporção, as reservas dos países emergentes e dos produtores de petróleo, que estão denominadas principalmente em dólares. E, obviamente, estimula a formação de reservas em outras moedas fortes, especialmente em euros e ienes japoneses. Foram-se os tempos em que, um depois do outro, os secretários do Tesouro dos Estados Unidos, sustentavam que tudo seria feito para manter a força do dólar. Compreensivelmente, as preocupações americanas vão no sentido contrário às manifestadas pelos dirigentes políticos europeus. Há semanas, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, vem atirando dardos sobre o Banco Central Europeu (BCE) por permitir que o euro se valorize tanto. Ele quer um BCE mais ativo (embora não diga como) para que as exportações francesas não sejam enfraquecidas e, com elas, o nível de emprego do país. Não há o que o Fed possa fazer diretamente para sustentar o dólar. Ele dispõe hoje de US$ 67 bilhões em reservas, volume que não passa de 40% das reservas líquidas brasileiras. Ainda assim, só US$ 42 bilhões desse total estão em moedas estrangeiras. É uma latinha de munição diante de um mercado que negocia ao menos US$ 3 trilhões por dia útil. Ou seja, o Fed não tem como intervir nos mercados para sustentar o dólar acima do nível da água. O único instrumento de que dispõe para aumentar a procura de dólares nos mercados internacionais é a política monetária. E isso significa puxar os juros. O problema é que as turbulências provocadas pela crise do crédito imobiliário de alto risco (subprime) levaram o Fed a fazer o contrário, ou seja, a baixar os juros no dia 18 de setembro. E foi a pancada já vista, de meio ponto porcentual. Como os juros demoram pelo menos seis meses para produzir o efeito desejado, não há condição técnica de reverter esse movimento tão cedo. Ao contrário, as apostas gerais são de que o Fed terá de voltar a baixar os juros na sua reunião marcada para o dia 31. Não se pode descartar uma ação coordenada entre os bancos centrais dos países ricos. Mas esta seria uma operação complicada que talvez o euro a US$ 1,45 não justificasse. Mas e se as cotações continuarem galopando para US$ 1,50 ou para US$ 1,60?

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