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'A gente sente falta de poder comprar fruta', diz vendedor ambulante

No Rio, Washington Silva França cortou uma série de itens da lista de compras de supermercado da família com a redução para R$ 300 do auxílio emergencial

Por Douglas Gavras
Atualização:

Vendedor ambulante de placas decorativas para turistas no centro do Rio de Janeiro, Washington Silva França, de 44 anos, é desafiado a fazer uma lista de supermercado com os produtos que não pode mais comprar, desde que o auxílio emergencial que recebia por conta da pandemia do novo coronavírus foi cortado de R$ 600 para R$ 300, em setembro.

“O que a gente mais sente falta é poder comprar frutas. Minha mulher e eu sempre gostamos, mas os preços de tudo no supermercado subiram, no mesmo momento em que nosso benefício caiu pela metade. Nunca quisemos depender de auxílio, mas foi uma crise que pegou todo mundo em cheio e que ainda não passou.”

Washington trabalha com turismo, mas os turistas ainda não voltaram. Foto: Wilton Júnior/Estadão

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Após mais de quatro meses sem poder trabalhar na rua, por conta das medidas de distanciamento social tomadas nos primeiros momentos da pandemia, ele conseguiu finalmente voltar ao trabalho há cerca de um mês, o problema é que os turistas ainda não voltaram. “Trabalho há 20 anos como vendedor. Demorou muito para o auxílio emergencial sair, quando teve a opção de cadastrar, fiquei quase um mês, para conseguir receber. Lembra daquelas filas gigantes na porta das agências da Caixa? A gente nunca vai esquecer.”

O auxílio começou a ser pago no País em abril, mas a família de França começou a receber o benefício de R$ 600 só em maio. “Neste mês em que ficamos sem poder trabalhar e ainda sem receber o auxílio, foi ainda mais difícil. A minha mulher, que é dona de casa, teve um AVC (acidente vascular cerebral) há dois anos, e teve de interromper o tratamento durante a quarentena. Ainda bem que moramos em casa própria e não precisamos pagar aluguel.”

França conta que o movimento de clientes ainda está muito fraco. “As minhas vendas caíram 60% em relação ao que eram antes da pandemia. Antes, eu tirava R$ 150, R$ 200 por dia. Hoje, no máximo R$ 40. As coisas subiram muito de preço e a gente estava contando que o auxílio ficasse em R$ 600 até o fim do ano.”

Ele lembra que o movimento de vendedores da cidade se uniu para a distribuição de cestas básicas nos últimos meses e também promoveu uma vaquinha virtual de R$ 25 mil, dividida para cem camelôs. “Foi o que nos salvou. A gente precisa mostrar que, por mais que as cidades já estejam reabrindo, quem depende da circulação de pessoas ainda está sofrendo muito com a crise.”

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