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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A geração dos millennials, esses nativos digitais

Os pais precisam entender melhor o que passa na cabeça dos jovens quando se fecham no quarto e não largam o celular

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Foto do author Celso Ming
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Atualização:

O celular é tão importante quanto um plano de saúde – ao menos para os brasileiros nascidos nas décadas de 1980 e 1990. E eles consideram um computador portátil tão essencial quanto há alguns anos era o carrão, sonho de consumo de qualquer garotão e, hoje, já não é mais. Não é achismo: trata-se do resultado de levantamento feito pelo instituto de pesquisa digital MindMiners, em 2016, com 1.300 brasileiros entre 17 e 31 anos. (Veja o gráfico.)

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Versos de uma canção de Bob Dylan (1963) fazem dura advertência a mães e pais: “Não critiquem o que vocês não conseguem entender; seus filhos e filhas estão fora do comando de vocês”. Quer dizer, pelo menos para não passar os dias reclamando, os pais precisam entender melhor o que passa na cabeça dos jovens quando se fecham no quarto e não largam o celular.

Estamos falando da faixa etária mundialmente conhecida como “millennials” (ou Geração Y), por terem crescido na virada do milênio, quando começou a perder importância o mundo analógico das fitas e dos telefones fixos e se iniciou a popularização da internet e dos celulares. Porque vivem na virada dos mundos “offline” e “online”, eles são hoje nativos digitais, com perfil exigente no consumo e flexível no mercado de trabalho. É por isso que as agências de publicidade procuram vasculhar o comportamento dessa faixa de consumidores com até mais empenho do que mães e pais movidos pela aflição por não conseguirem acompanhar a geração seguinte.

O levantamento do MindMiners mostrou que, entre os jovens satisfeitos com sua ocupação no momento da pesquisa, um terço pretendia mudar de emprego em menos de dois anos. Enquanto isso, o mesmo segmento de “satisfeitos” da geração anterior, conhecida como X (nascidos entre 1960 e 1980), revelou que apenas 20% pretendiam mudar de emprego. Ou seja, estar feliz na vida profissional não é necessariamente sinal de que o millennial quer permanecer no mesmo posto de trabalho nos cinco anos seguintes.

Assim, os millennials são geração mais propensa ao empreendedorismo e ao trabalho por conta própria. A pesquisa do MindMiners mostrou, ainda, que os interessados em sair do emprego pretendiam abrir seu próprio negócio ou trabalhar em empresas de tecnologia. Isso coincide com o “boom” das startups, como as fintechs.

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Estudo da Deloitte de 2018 sobre essa mesma faixa de público verificou que, entre aqueles que não têm condições de abrir uma empresa, 84% já atuam ou pretendem atuar em atividades informais, com o objetivo de complementar a renda obtida em emprego com jornada diária de 8 horas.

Mas não basta captar os impulsos dessa gente. É preciso entender sua alma. Depois de estudá-la, os observadores entenderam que os millennials são mimados demais, materialistas, egoístas, preguiçosos e arrogantes. Levantamento com mais de 18 mil jovens de todo o mundo por outro instituto importante, o Ipsos, mostrou que segmentos de outras gerações têm essa mesma percepção dos millennials e que estes concordam em que transmitem essa imagem aos demais.

A pesquisa acrescenta que, pela primeira vez nas economias de alta renda do mundo ocidental, a geração dos millennials vive em condições financeiras mais precárias do que a de seus pais ou avós. Eles têm salários estagnados, renda mais baixa e, no entanto, enfrentam custo de vida bem mais alto. Estados Unidos e países da Europa estão aí para comprovar essa percepção. A exceção, diz o estudo, está nos mercados emergentes – dentre eles, o Brasil.

Os millennials já ingressaram na idade adulta e, depois dela, vem surgindo a geração que estudiosos vêm chamando de geração centennial (ou Geração Z). A esta altura convém perguntar como fica a relação dessas faixas de pessoas que começam a ser marcadas por outro determinismo demográfico: o do envelhecimento da população mundial. Uma população preponderantemente de coroas reluta em passar o bastão da corrida de revezamento para os que vêm atrás e, nos costumes e na política, tende a ser mais conservadora. Estamos, por acaso, na iminência de novos conflitos entre gerações? O recado de Bob Dylan pode não estar sendo ouvido.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Guilherme Guerra
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