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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A GM quer mais bondades

Se o governo federal, os Estados e os funcionários tiverem de socorrer cada empresa que passar por três anos de resultados ruins, então seria mesmo preciso abolir de uma vez o regime capitalista no Brasil

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Atualização:

Nem se completaram dois meses depois que o governo baixou o último pacote de benefícios para a indústria de veículos, o tal Rota 2030, e a General Motors do Brasil voltou a pressionar por nova rodada de bondades.

Zarlenga. Mais 'sacrifícios' Foto: Silvana Garzaro

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A GM alega que enfrenta três anos de resultados insatisfatórios – seja lá o que isso signifique, dado que ninguém consegue ver essa contabilidade. Mas, desta vez, ainda não avançou sobre o governo federal. A GM decidiu passar o chapéu entre os governadores que, no momento, administram Estados com bem mais de três anos de pindaíba. Tanto assim, que há seis cujos governadores decretaram estado de calamidade financeira.

A GM quer do governo de São Paulo liberação imediata de créditos de ICMS. E não para por aí. Dos funcionários, conforme comunicado de seu presidente para o Mercosul, Carlos Zarlenga (foto), exige mais “sacrifícios”, para tentar reverter o mau desempenho nas vendas. Quer redução de 30% no piso salarial, aumento da jornada de trabalho, liberação da terceirização... E por aí vai. São 28 concessões trabalhistas que pretende arrancar dos funcionários.

Se o governo federal, os Estados e os funcionários tiverem de socorrer cada empresa que passar por três anos de resultados ruins, então seria mesmo preciso abolir de uma vez o regime capitalista no Brasil, o mesmo que leva o empresário a assumir riscos e a enfrentar adversidades por conta própria, sem guarda-chuvas oficiais. 

As empresas do setor automotivo se alternam na liderança desse processo permanente cujo objetivo é obter sempre novas vantagens. Desta vez, coube à GM reiniciar o jogo reivindicatório de um setor eternamente pidão. Num regime concorrencial é inconcebível que uma empresa receba privilégios em detrimento das demais. Ou seja, por questão de simetria, potes de melado que forem distribuídos para uma delas terão de chegar às demais, mesmo que possam exibir algum lucro. 

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Há quase 70 anos, o setor de veículos no Brasil – e não apenas a GM – se comportam como indústrias engatinhantes, que não conseguem se movimentar sobre suas próprias rodas. Precisam sempre de proteção tarifária, de proteção fiscal e de financiamentos oficiais a créditos favorecidos.

Seus novos movimentos lembram às vezes manjadas técnicas de chantagem. Se as vantagens reivindicadas demorarem demais ou não vierem, ameaçam com o fechamento de linhas de montagem e, por suposto, com dispensas em massa. Ao jornal Detroit News, a presidente mundial da GM, Mary Barra, declarou que “a empresa considera sair da América do Sul”.

E, no entanto, há muito sabemos que o veículo nacional não proporciona nem a mesma qualidade nem preços equivalentes aos dos fabricados pela concorrência internacional. Em 1990, o então presidente Fernando Collor já dizia que o setor “produzia carroças”. De lá para cá, continua atrasado. Consegue exportar apenas para países vizinhos.

Levantamentos feitos pelo Broadcast, serviço de notícias da Agência Estado, a partir de informações da Fenabrave, mostram que, apesar dos pesares, o mercado de veículos leves cresceu 13,7% no ano passado em relação a 2017. E, no entanto, todos os modelos da GM tiveram desempenho abaixo disso ou abaixo do seu segmento. Isso mostra que até mesmo na terra das carroças a GM mostra deficiências de gestão e de estratégia de negócios.

» Alguma melhora

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O mercado de trabalho continua devagar, mas já mostra alguma melhora. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou em 2018 a criação de 529,5 mil postos com carteira assinada. Parece insignificância – e de fato é –, mas desde 2014 é a primeira vez que aparece dado positivo. Os observadores preveem crescimento do PIB neste ano de pelo menos 2,5% (projeção do ‘Boletim Focus’), mas ninguém se iluda. A criação de empregos não deve acompanhar o ritmo do PIB.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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