30 de outubro de 2010 | 00h00
Os contêineres costumam estar cheios de "recursos estratégicos" - terras raras - fornecidos normalmente pela China. O incidente confirma que a China poderá fechar a torneira dos fornecimentos de terras raras.
O fato de esse incidente opor China e Japão é muito eloquente, por um lado, por causa das relações execráveis entre os dois gigantes econômicos, por outro lado, e principalmente, porque essas terras raras pontuam as relações comerciais Japão-China.
Para compreender a questão, é preciso saber o que são terras raras.
São minerais não ferrosos que incluem 17 variedades de elementos químicos. Sua lista se assemelha a um poema surrealista: lantânio, neodímio, cério, praseodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, escândio e lutécio.
Para que servem? Para a alta tecnologia - por exemplo, a dos ímãs que transformam a energia elétrica em energia mecânica. Encontramos essas terras raras em todos os produtos high tech, celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas, painéis solares, etc.
É aqui que encontramos de novo o Japão e a China. De fato, o campeão desses produtos de alta tecnologia é o Japão que, não dispondo de recursos naturais, baseia sua economia nas indústrias de ponta. Ao contrário, os chineses, que não dominam a alta tecnologia, são os maiores produtores de terras raras. Os dois países se complementam.
Portanto, se a China quiser pressionar o Japão, bastará que limite suas entregas de terras raras, como a Rússia, quando a Ucrânia faz má-criações, fecha seus gasodutos ou oleodutos.
Manobras. Isso significa que a China possui todas as terras raras do planeta? Não, ela sabe manobrar. Em 1992, o líder chinês Deng Xiao Ping quis que lhe explicassem a história das terras raras. Deng tinha 87 anos, mas tinha um espírito muito vivo, e concluiu: "O Oriente Médio tem óleo. A China terá as terras raras". Desde então, a China produz terras raras a preços imbatíveis. Ela conseguiu asfixiar a concorrência, de modo que outros países abandonaram a exploração de terras raras, a ponto de hoje Pequim ter praticamente o monopólio.
O Japão não é o único país que a China poderia dobrar limitando as entregas de terras raras. Os EUA estão na mesma situação, assim como todos os grandes países industrializados. O alerta lançado pelo Japão soou como um formidável alarme, semeando o pânico em toda parte, nas indústrias, nas bolsas, nos bancos, nos governos.
Feitos os cálculos, percebeu-se que a China tinha diminuído os fornecimentos - que teriam baixado de 30 mil toneladas em 2009, para 8 mil em 2010. Maus presságios.
Pequim divulgou então comunicados tranquilizadores, mas a China não pretende estabelecer cotas, desrespeitando as normas internacionais do comércio. Pequim reconhece que suas exportações diminuíram (este ano, 40%, afirma), mas somente porque seus recursos de terras raras estão se esgotando.
Hillary Clinton tomou nota dos comunicados encorajadores de Pequim, entretanto, consciente de que seria perigoso e quase suicida depender exclusivamente da China para a compra de terras raras, acrescentou: "Nossos países têm a obrigação de buscar outras fontes de fornecimento" - isso é, fora da China. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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