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A hora pode ser para helicópteros

O de Temer está esquentando as pás, pulverizando R$ 41 bi na economia com o resgate das contas inativas do FGTS

Por Marco Antonio Rocha
Atualização:

A manchete do Estado de domingo resumia um sentimento geral em relação aos “nove meses de Temer: avanços na economia e ‘velha política’”. Está implícita nesse diagnóstico a ideia de que a velha política trava maiores avanços na economia. E, de fato, os fatores que mais impulsionam a economia são: confiança geral na continuidade do processo de avanço e confiança numa razoável estabilidade no front político.

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Ora, o que chamamos de “velha política” se traduz por um cambalacho sem fim num jogo cuja serventia é apenas a satisfação de interesses pessoais – político-eleitorais ou financeiros-empresariais. Isso não pode suscitar grande fé na estabilidade. A qualquer momento, o jogo político estará sujeito a mudanças de regras, à ascensão e descenso de poderosos fugazes.

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, deu nome aos bois ao dizer, em palestra recente, que o governo escolhe seus auxiliares de acordo com o número de votos que o escolhido possa garantir no Congresso para aprovação do que interessa ao governo. Não há nenhuma avaliação de mérito técnico ou de capacidade política, com “P” maiúsculo, para conduzir grandes questões nacionais, quais sejam, por exemplo, as reformas trabalhista e previdenciária, a própria reforma política, a educacional, a judicial, a do sistema penitenciário e outras.

O ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, não parece ter grande número de votos no Congresso. Não foi, parece, escolhido por isso, mas pela confiança que sua proposta obteve com a parcela mais responsável da opinião pública. E é garantido pelo braço e pela caneta do próprio presidente Michel Temer. Eis sua garantia de cláusula pétrea na administração governamental, não sujeita, ou muito pouco sujeita, aos humores voláteis de líderes de grupos e grupelhos parlamentares ou partidários, tipo “centrão”. A confiança na estabilidade da equipe econômica talvez explique em boa medida que o “mercado” manifeste fé no avanço da economia, apesar de os dados coletados pelo IBGE, pela FGV, pelas consultorias de negócios e pelos departamentos de economia de vários bancos não assegurarem em futuro, imediato ou mediato, aumentos efetivos nos investimentos privados e públicos, no crescimento do PIB, no aumento dos empregos, enfim, num quadro que inspire maior tranquilidade às famílias quanto ao futuro, digamos, de três anos à frente.

Esse é um dado que deveria ser melhor pesquisado. As pesquisas de fim de ano das TVs, tipo “fala-o-povo”, indagam o que o transeunte acha que vai acontecer “no ano que vem”. As respostas são sempre de confiança cega, tipo tudo vai melhorar; ou de indecisão, tipo não sei não; ou negativas, tipo, “só piora”.

No último fim de ano, se bem me lembro, as respostas foram na maioria de indecisão, pois no Brasil “sempre há esperança”. Essa atitude de esperança, ou de fé no País, tradicional entre nós, teria de se estender aos governantes e à classe política em geral. Mas ao dizer que “no Brasil as coisas sempre melhoram”, o popular costuma acrescentar: “Mas, com esses que estão aí... não dá, né...”.

Todavia, há sempre como animar o povo em geral e impulsionar o varejo (que é como um termômetro da economia). Os economistas sugerem, em tom de piada: jogar dinheiro de helicóptero.... FHC fez isso de maneira indireta, com o Plano Real, ao derrubar uma inflação colossal para índices civilizados. Indiretamente, o povo teve mais dinheiro no bolso para gastar. Lula fez de maneira direta, com o Bolsa Família – algum dinheiro para quem não ganhava nenhum. Aumentou substancialmente o varejo comercial e, auxiliado pela baixa inflação, conseguiu até um avanço de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, embora medido ante uma queda do PIB em 2009 no rastro da crise de 2008.

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O helicóptero de Temer está esquentando as pás: R$ 41 bilhões serão pulverizados na economia mediante resgate das contas paralisadas do FGTS, a partir de março. Pode ser um alento ao varejo, dando tempo a que melhorem os indicadores macroeconômicos.