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A importância do centro

A trinca PMDB-PSDB-DEM será a base da aprovação das reformas no Congresso

Por Fábio Giambiagi
Atualização:

Nossa redemocratização foi construída a partir da aglutinação das forças políticas em torno da hegemonia do centro, originalmente representado, na gênese da Nova República, pela aliança entre os grupos que gravitavam em torno de Tancredo Neves – candidato à Presidência na campanha de rua, ainda que em eleições indiretas, em 1984 – e Sarney, que liderou a dissidência do partido sucedâneo da Arena. Essa hegemonia do centro, ainda que com a mudança de alguns atores, foi a marca predominante dos governos desde então, com duas exceções. Foi a convergência em torno do centro que marcou os anos da Presidência de FHC – autor da sábia frase de que “eu conseguiria vencer sem o apoio do PFL, mas não poderia governar sem o apoio dele”, toda uma síntese de realpolitik – e também as escolhas iniciais do governo Lula, quando a aliança deste em 2002 com o então empresário e depois vice-presidente José Alencar simbolizou a intenção de caminhar rumo ao centro que, efetivamente, correspondeu à sua ação política durante parte importante da sua gestão.

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A primeira exceção a essa dinâmica foi o governo Collor, não porque ele fosse de esquerda ou qualquer coisa do gênero, e sim por seu isolamento político, que foi em última instância o que levou à sua queda – independentemente das razões que provocaram a deflagração do seu impeachment. Isso porque a maioria dos analistas coincide que outro teria sido o desfecho daquele enredo se a relação com as principais forças políticas tivesse sido desde o início mais harmônica.

A segunda exceção, num contexto de menor expressão política do sucedâneo do PFL – o DEM – e maior peso do PMDB na aliança, foi o segundo governo Dilma, quando a evidente tentativa de quebrar a força do PMDB, alimentada pelos grupos mais ideológicos do PT, foi o combustível que agravou o que já em condições normais seria uma crise grave, na esteira do escândalo do petrolão.

O que se quis sinalizar com este racconto é uma constatação muito singela: quando o centro se une, os governos avançam – seja na redemocratização, como com Sarney, ou na estabilização e nas melhoras sociais, com FHC e Lula. Já quando o centro implode, os governos não funcionam – e, no limite, são depostos. No Brasil, para que um governo possa ficar de pé e funcionar direito, o papel do centro é essencial. É tão simples quanto isso.

Esta questão está no âmago da reflexão que se impõe quando o cenário de 2018 começa a ser parte do horizonte que se descortina para o País. Tal reflexão leva a duas análises, que será importante levar em conta nos próximos dois anos e que podem ser sintetizadas em duas frases: será muito difícil um governo de minoria funcionar no Brasil em 2019; e o centro precisa se unir.

Em relação ao primeiro ponto, a questão-chave é que, se o próximo presidente não gerar um comprometimento das principais forças políticas com o seu sucesso, há um risco enorme de que se repita, com as devidas adaptações, um cenário como o de 2015, quando o Congresso desandou a aprovar semana após semana itens da chamada “pauta-bomba” diante de um Executivo completamente paralisado, o que poria a perder todo o esforço de estabilização que o País começou a perseguir nos últimos meses e deverá continuar no restante do governo Temer.

Quanto ao segundo ponto, é evidente que as chances de sucesso da política econômica em curso dependem da sustentação parlamentar do núcleo composto pela trinca PMDB-PSDB-DEM. Foi ela que deu amparo ao novo governo constituído em torno do presidente Temer nas semanas delicadas da votação do impeachment e que será a base da aprovação das reformas que se espera ver votadas pelo Congresso nos próximos meses. Esse núcleo de poder precisa identificar uma liderança clara que segure o bastão da estabilidade depois de 2019. Sem que o centro permaneça unido, o risco de a melhora econômica se frustrar no futuro será grande.

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*É economista