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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A incerteza continua, mas há mais confiança

Fator que mais vem contribuindo para esse aumento inicial da confiança é a maior disposição do governo de enfrentar imediatamente a reforma da Previdência Social

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Atualização:

Apesar dos bate-cabeças, na área econômica, os primeiros dez dias do governo Bolsonaro trouxeram mais notícias boas do que ruins. O mercado financeiro, que reflete o estado de espírito dos que põem dinheiro vivo na parada, aponta boa recuperação de confiança.

Comecemos pelo CDS-5, a sigla para Credit Default Swap, que é a remuneração extra cobrada pelos investidores no mercado externo para ficar com os principais títulos do Tesouro do Brasil, de cinco anos. Funciona como uma espécie de seguro contra calote. Quanto maior esse extra, maior a percepção de risco. Nesses dez primeiros dias o CDS-5 caiu de 209,3 pontos para 181,0 pontos, uma queda de 13,5%. Veja o gráfico. (Cada 100 pontos correspondem a um ponto porcentual. Assim, os tais 181,0 pontos cobrados ontem equivalem a um extra de 1,81% ao ano sobre a remuneração de referência, que é a do título do Tesouro dos Estados Unidos.)

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Outro indicador de melhora de percepção sobre a economia é a trajetória do dólar no câmbio interno. Nesses dez primeiros dias, a cotação veio de R$ 3,88 por dólar para R$ 3,71, queda de 4,33%. Ou seja, o fluxo de moeda estrangeira foi determinado mais pela maior oferta do que pela maior procura.

E tem a Bolsa. A valorização média dos papéis negociados no mercado foi, nesses dez dias, de 6,72%, refletindo a percepção geral não só de que os resultados das empresas tendem a melhorar, mas, também, de que vale a pena correr mais riscos – até porque a remuneração dos juros continua perdendo gás.

O fator que mais vem contribuindo para esse aumento inicial da confiança é a maior disposição do governo de enfrentar imediatamente a reforma da Previdência Social, a mais politicamente complicada da pauta econômica. Não só deputados e senadores parecem mais convencidos de que é preciso atacar esse problema. Governadores e prefeitos já veem esse equacionamento como fator de sobrevivência política. Além disso, a oposição, que continua contra por motivações corporativistas, está abatida e desorganizada.

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Afora isso, as contas externas do Brasil continuam sólidas, como mostram os números de comércio exterior. E apesar dos reajustes sazonais deste início do ano, a inflação se mantém bem comportada, como as estatísticas de dezembro a serem divulgadas pelo IBGE desta sexta-feira devem confirmar.

Não há nenhuma garantia de que o governo acerte mais do que erre. Bolsonaro às vezes se mostra picado pelo mosquito do desenvolvimentismo e se sente tentado a saltar por cima das necessidades de equilíbrio das contas públicas. Ou, então, parece ignorar como garantir o exercício da autoridade sem cair no dirigismo, o maior vício de gestão do governo petista.

As grandes decisões na área econômica ainda não foram anunciadas e ainda não se sabe que tipo de apoio político terão. Além disso, grande volume de incertezas paira sobre a economia mundial. Há essa ameaça de guerra comercial entre as maiores potências econômicas do Planeta, há forte tendência à quebra de crescimento da economia global e ao aumento do desemprego e há o impacto global do provável fracasso do Brexit, a ser confirmado terça-feira.

A nova esticada dos preços do petróleo, de 13,8% nestes primeiros dez dias para o tipo Brent, parece apontar na direção contrária, ou seja, para maior aumento da demanda e, portanto, da atividade econômica mundial. Mas essa nova alta pode ser mais reação pela baixa exagerada anterior do que pela perspectiva de aumento do consumo de energia.

A recuperação sustentada da economia brasileira, agora sob nova administração, ainda não está assegurada. Mas o clima para isso melhorou.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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