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‘A inflação vai continuar batendo à nossa porta até abril do ano que vem’, diz economista

Para André Braz, alívio no IPCA, que ficou em 1,25% em outubro, só deve começar a ser sentido no bolso do consumidor com o fim a bandeira escassez hídrica na conta de luz, prometida pela Aneel a partir de maio

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

A inflação não deve dar trégua para o brasileiro até o início do segundo trimestre de 2022, com índices mensais na casa de 1% até janeiro e fevereiro. “A inflação vai continuar batendo à nossa porta até abril do ano que vem”, prevê o coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. O alívio, segundo o economista, deve começar a ser sentido no bolso do consumidor com o fim da bandeira escassez hídrica na conta de luz, prometida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a partir de maio.

Até lá, a pressão nos preços deve continuar. Para este mês, por conta dos reajustes dos combustíveis já anunciados no final de outubro, Braz espera um índice em torno de 1%. Em dezembro, a entrada do 13º salário deve garantir preços pressionados, mesmo com a economia fraca. Fora isso, janeiro e fevereiro serão marcados por gastos de férias, reajustes de tarifas de transporte público e de mensalidades escolares, da ordem de 8% a 10%, que vãocarregar a inflação deste ano para 2022. A seguir, os principais trechos da entrevista. 

André Braz, coordenador de índices de preços da FGV. Foto: Divulgação FGV/ Bianca Gens

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Como o sr. avaliaa alta de 1,25% da inflação de outubro?

Ficou acima do esperado. Eu projetava algo em torno de 1%. Mas tivemos algumas surpresas. Os serviços de táxi por aplicativo, por exemplo, subiram 19%. Uma alta dessas é muita coisa, ainda que se justifique por causa do aumento dos combustíveis. Também houve aumentos das passagens aéreas, já sinalizado no IPCA-15, refeição fora de casa, lanche. É a combinação da alta dos alimentos, com energia elétrica e também a volta das pessoas às lojas, o que ajuda a promover os repasses de aumentos de custos para os preços. 

No IPCA de outubro houve alta em todos os grupos, isso mostra descontrole da inflação?

Não. O descontrole inflacionário impõe um ritmo de reajustes muito mais forte do que o atual. O que há é um contágio. Os aumentos de preços dos combustíveis e da energia elétrica ajudam a espalhar a inflação para praticamente todos os grupos de preços. Ainda que a energia elétricatenha concentrado seu efeito máximo na inflação de setembro, existem reflexos indiretosque contaminama prestação de serviços, a produção industrial. No caso da alta do diesel, é a mesma história. Também tivemos uma crise hídrica que não só afetou a conta de luz, mas também trouxe problemas para o campo, com quebra de safra de cana e derivados, no caso do etanol. Isso tem efeito sobre a gasolina, porque 27% da gasolina é álcool anidro.

Até quando vamos ter índices de inflação tão elevados?

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Acho que a inflação vai continuar batendo à nossa porta até abril do ano que vem. A partir de maio, com a ajuda da energia elétrica, ela começa a desacelerar. A queda no preço da energia elétrica foi prometida pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a partir de maio, com o fim da bandeira de escassez, que é a mais cara. A imposição dessas bandeiras fez a energia elétrica subir quase 30% este ano. Tirando esse impacto, desoneramos a cadeia produtiva: fica mais barato produzir, prestar serviços e o consumidor terá uma conta de luz menor. Enquanto os energéticos(eletricidade e combustíveis) estiverem subindo, isso vai pressionar o IPCA. E esses aumentos não vão parar em outubro. Temos aumentos contratados para novembro, porque no final do mês passado o governo anuncioureajuste do diesel e da gasolina. Ambos vão continuar botando lenha na fogueira, com efeitos diretos e indiretos. Vamos ter um novembro bem inflado, com taxa em torno de 1%.

O sr. acha que teremos inflação mensal na casa de 1% até abril?

Acredito que a inflação mensal na casa de 1% vai durar até janeiro, fevereiro. Em dezembro, a demanda será mais forte por conta do pagamento do 13.º salário, mesmo com a economia mais fraca. Janeiro é um mês de férias, com gastos em viagens. Em fevereiro a pressão virá de tarifas públicas importantes, como transportes coletivos, e das mensalidades escolares. Os reajustes das escolas já estão vindo: uns com alta de 8%, outros com 10%. Estão muito próximos da inflação prevista para este ano.

Com o resultado de outubro, como fica a previsão para o ano?

Estava prevendo uma inflação de 9,5% para 2021. Mas com esse resultados, acho que pode chegar a próximo de 10%.

Com esse resultado de outubro, oCopom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve subirmais de 1,5 ponto os juros na próxima reunião?

Acredito que já deveria ter feito isso na reunião passada.O resultado de outubro mostra uma persistência maior da inflação e acho que há maior chance de que ele faça um aumento maior. E quanto maior o aperto monetário, menor a chance de crescermos de forma robusta no ano que vem.

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É factível atingir a meta de 3,5% para o ano que vem?

É muito difícil que a meta do ano que vem seja atingida exatamente pela forma que o governo escolheupara conduzir a sua política fiscal. Será muito difícil, a menosque algo nos favoreça. Para 2022, acho que uma inflação em torno de 5% está muito mais alinhada com a realidade atual, do que uma inflação de 3,5%. Inflação alta com baixo crescimento sinalizam a possibilidade de termos estagflação em 2022.

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