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''A mensagem é que vamos nos mexer''

Governo não está acomodado e pacote industrial vai estimular as exportações, diz Mantega

Por Ribamar Oliveira
Atualização:

A principal mensagem que o governo quis passar ao mercado, com as três medidas anunciadas ontem, é que não aceitará passivamente uma valorização excessiva do real, que possa comprometer as contas externas do país a médio e longo prazo. "Estamos dando uma mensagem de que vamos nos mexer", resumiu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao Estado. A tributação dos investimentos estrangeiros em renda fixa com uma alíquota de 1,5% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), é um passo do governo para diminuir as chamadas operações de "carry-trade", observou o ministro. As operações de carry-trade são aquela em que o investidor obtém um empréstimo em dólar, a juros baixos, traz o dinheiro para o Brasil, compra reais e utiliza os recursos para fazer aplicações em títulos públicos ou em fundo de renda fixa. Desta forma, o investidor ganha com a valorização do real frente ao dólar e na taxa de juro paga pelo Tesouro Nacional, a mais elevada do mundo. "O carry-trade tende a ser ampliado com a queda acentuada do dólar no mundo inteiro", disse Mantega. Com um possível aumento do ingresso de dólares no Brasil, maior seria a valorização do real e, em consequência, pior o desempenho da balança comercial do País. Em janeiro, houve uma saída de US$ 3 bilhões que estavam aplicados na Bolsa de Valores, mas, ao mesmo tempo, uma entrada de R$ 1,6 bilhão para aplicações em renda fixa, um fato atípico para este mês do ano. Essa enxurrada de capitais especulativos para o Brasil será intensificada com a esperada decisão das agências de rating de promover o País ao grau de investimento, observou o ministro da Fazenda. A redução da rentabilidade das aplicações estrangeiras em renda fixa, com o IOF de 1,5%, é uma espécie de "ação preventiva" do governo brasileiro a essa possibilidade. Se a medida adotada para as aplicações estrangeiras em renda fixa não surtir efeito, ou seja, se o fluxo de capital especulativo e de curto prazo continuar se acentuando nos próximos meses, o ministro deu a entender que a alíquota do IOF poderá ser elevada. Ele lembrou que a alíquota do IOF pode ser ajustada por decreto, o que facilita futuras mudanças. Mantega fez questão de ressaltar que o IOF nessas aplicações não tem caráter arrecadatório, mas apenas regulatório. Embora o crescimento da economia brasileira esteja sendo sustentado pelo mercado interno, cuja demanda apresenta expansão recorde, Mantega disse que o governo "não quer se acomodar" a essa situação e está preocupado em estimular fortemente as exportações. "Queremos seguir o caminho asiático", disse, numa referência aos países da Ásia, cujas economias também estão voltadas para o comércio internacional. "O governo vai estimular o setor de manufaturados por meio de uma política industrial que será anunciada brevemente", disse o ministro. Embora não tenha antecipado quais serão as novas medidas de estímulo às exportações no âmbito da política industrial, Mantega admitiu que o governo poderá fazer novas desonerações tributárias.

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