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A omelete e os ovos

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Por Celso Ming
Atualização:

Entre os senhores do mundo as divergências são maiores do que as convergências. Assim, os dirigentes políticos continuam sob risco de serem atropelados pela crise sem terem uma proposta viável a oferecer ao mundo. Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo (Grupo dos 20, o G-20) estão reunidos neste fim de semana nos arredores de Londres para avançar nas propostas para o contra-ataque. A reunião prepara a cúpula dos chefes de Estado agendada para 2 de abril. A primeira reunião para tratar do assunto ocorreu em novembro passado, em Washington. Ao final de dois dias, os chefes de Estado despacharam um comunicado com 47 propostas que foi relativamente bem recebido, mas cuja principal decisão foi deixar tudo para 2 de abril, quando já se poderia contar com a presença do novo presidente americano, Barack Obama. Os mais respeitáveis analistas do planeta destilam ceticismo sobre o desfecho prático do evento. Martin Wolf, o mais respeitado e o mais cuidadoso entre eles, escreveu semana passada que "esse encontro fracassará". Outros preferem pontuar que a falta de convergência é tão grande que a crise precisaria piorar muito para que se fizesse algo capaz de virar o jogo. Em todo o caso, o pressuposto é o de que não há solução de mercado. Qualquer que seja ela, terá de vir da vontade política dos dirigentes. Entre as propostas que começam a ser mais debatidas estão o fortalecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI) como emprestador de última instância para países emergentes e uma nova regulação para todo o mercado financeiro global. Pela sugestão preliminar encaminhada pelo governo americano, o FMI aumentaria de US$ 50 bilhões para US$ 500 bilhões os recursos de emergência destinados a países emergentes. O problema é que, com exceção dos Estados Unidos, que contribuiriam com US$ 100 bilhões, a maioria dos países sócios do FMI não dispõe de recursos para a capitalização. Ontem o ministro Guido Mantega avisou que os quatro maiores países emergentes (Bric) não concordam com a proposta do secretário do Tesouro americano, Tim Geithner. A divergência está calcada em pressupostos geoestratégicos. O FMI é o único organismo multilateral que os Estados Unidos de fato controlam. Isso deixa os europeus com um pé atrás. Eles gostariam que iniciativas desse tipo se fizessem via instituições menos influenciadas por Washington. A outra proposta, desta vez enfatizada pelos europeus, especialmente pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, é aumentar os controles sobre o mercado financeiro, principalmente sobre os fundos de hedge e os fundos de equity. A ideia seria nomear um cão internacional de guarda que definisse o que essas instituições podem ou não fazer. O governo Obama deixou claro que não gosta desse caminho pois daria poder demais a um superxerife global. Os americanos não veem com bons olhos a possibilidade de que suas grandes instituições financeiras sejam xeretadas por estrangeiros. "O Federal Reserve (banco central americano) é um espaço natural para uma responsabilidade desse tipo", avisou Geithner. Enfim, não está definido se é ou não para sair a omelete e quantos ovos quebrar.

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