A inauguração de uma loja das grandes grifes internacionais é motivo de euforia entre os brasileiros da classe A. As festas são abastecidas de espumante e canapés e a clientela costuma se esbaldar e sair carregada de sacolas. Mas o clima foi outro na abertura da Chanel no Shopping Cidade Jardim, um dos endereços do luxo de São Paulo. O que se via na noite da segunda-feira era muita gente e poucas compras. Sinal de alerta na alta renda. A aversão ao endividamento nesses dias de crise econômica global, mesmo diante de modelos Chanel, é fácil de entender. Os preços das bolsas variam de R$ 4.680 a R$ 13.460 (um modelo com pêlo de pônei). O broche de tecido em formato de camélia é vendido por R$ 680. Alessandra Campiglia foi à Daslu do Cidade Jardim para a inauguração da nova loja. Vestida de Chanel da cabeça aos pés, ela confirma o clima de apreensão. "A crise afetou todo mundo. As perdas na Bolsa foram grandes. Antes eu comprava presentes para todo mundo. Neste Natal vou cortar em 20% a minha lista", conta. O gasto médio com as lembrancinhas para manicures, seguranças e amigas varia de R$ 100 a R$ 300 e Alessandra pretende reduzir os valores. Fã de grandes grifes internacionais, como Chanel, Stella McCartney e Prada, Alessandra vai abrir mão dos supérfluos. "Se a manutenção das plantas de casa era semanal, passará a ser quinzenal", diz. A mudança de comportamento levou as lojas que atendem ao público de alto poder aquisitivo a antecipar as promoções de janeiro. "A vendedora da Louis Vuitton ligou para avisar que as bolsas estavam com o dólar mais baixo", comenta. As amigas Martha Lerro e Laura Costa Lima também passaram pela Chanel. Martha acaba de voltar de Paris e diz que as grifes internacionais vendidas por aqui estão muito caras. "Na Avenue Montaigne, endereço das grandes marcas, não havia clima de crise. Quem tem dinheiro tem dinheiro e pronto", afirma. Ela calcula que sua lista de presentes chegue a uns 30 nomes e o gasto médio por lembrancinha será de R$ 200. O Natal da classe A não deixará de ter um bom espumante importado, nozes e avelãs. Mas o mesmo não se pode dizer de outras despesas de fim de ano. Quem faz parte do topo da pirâmide sentiu primeiro o golpe da crise global. São pessoas como Alessandra que perderam dinheiro no mercado de capitais, viram o valor de suas empresas minguar e, diante da incerteza quanto ao próximo ano, começaram a cortar gastos. Uma volta pelos shoppings de alto padrão confirma o clima. Tanto no Cidade Jardim quanto no Iguatemi, tradicional endereço da elite econômica paulistana, o que se via, 10 dias antes do Natal, eram visitantes, não consumidores. Em lojas como Bulgari, Ermenegildo Zegna e Dolce & Gabbana as vendedores espantavam o tédio com um bate-papo. A Burberry, que se despede do Brasil no início do ano, anuncia na entrada da loja produtos em liquidação em plena alta temporada de consumo. A Jeans Hall, onde as calças custam por volta de R$ 2 mil, adotou os descontos progressivos. Das grifes mais badaladas, apenas a Diesel e a Gucci, recém-inaugurada, tinham um bom movimento. Kika Riveti, executiva da Longchamps, marca francesa de bolsas e malas,garante:"Quem tem muito dinheiro está comprando apenas o que precisa e olhando os preços antes de fechar negócio". Patrícia Assui, executiva da Tiffany, é cautelosa. A empresa, que falava da abertura da terceira loja no Brasil entre 2010 e 2011, engavetou o projeto. "Este será um Natal de muita cautela", opina. Representante da marca dinamarquesa Bang & Olufsen, Helio Bork ainda espera bons negócios mais perto do Natal. "Tivemos de negociar com a matriz para dar 20% de desconto em três produtos da linha; é algo inédito", explica Bork. Carlos Jereissati Filho, do Iguatemi, aposta num quadro melhor. "As vendas não estão tão fortes, mas porque vínhamos de uma base muito boa", explica.