
01 de outubro de 2015 | 06h46
Com a desvalorização do real, o endividamento total da Petrobrás chegou a R$ 415 bilhões em junho (cerca de US$ 134 bilhões) e já supera meio trilhão. A alta de preços busca evitar o agravamento da situação financeira da estatal, que já perdeu o grau de investimento conferido pela agência Standard & Poor’s e cujas ações preferenciais caíram 32% apenas neste ano, até segunda-feira.
É o segundo aumento em menos de um ano: em novembro de 2014, os preços da gasolina e do diesel subiram 3% e 5%, respectivamente, mas a ajuda às contas da Petrobrás durou poucos meses.
Com a disparada do dólar, nem os preços baixos do petróleo no mercado global evitaram a alta. A estatal tem de importar óleo bruto e derivados para atender à demanda local. Há uma semana, o Centro Brasileiro de Infraestrutura calculou que a Petrobrás vendia gasolina com prejuízo de 5,8% – porcentual próximo ao do ajuste ora anunciado.
A majoração dos preços deprime ainda mais a economia, pois afeta tanto o transporte das pessoas (coletivo e individual) quanto o deslocamento de mercadorias, além da geração de energia. O impacto sobre a inflação oficial foi estimado pelos analistas do Itaú em 0,14%. Parece pouco, não fosse a estimativa de que o IPCA de 2015 atinja 9,5%. No mês passado, o gás já havia sido aumentado tanto para fins residenciais como industriais e comerciais.
As contas da Petrobrás parecem preocupar o governo tanto ou mais que as contas públicas. Estas receberiam ajuda direta com o aumento sugerido da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os derivados de petróleo. Mas a estatal não seria beneficiada.
O estrago nas contas da Petrobrás é consequência da política oficial. O governo segurou os preços da gasolina e do diesel por vários anos, desprezando sucessivos alertas da diretoria da estatal. Agora, além dos efeitos negativos para a Petrobrás provocados pelos subpreços, o baixo grau de confiança no governo empurrou para baixo a cotação do real.
O resultado é que gasolina e óleo diesel custam mais caro no Brasil do que na maioria absoluta dos países. E, se antes do reajuste desta semana o consumo de derivados de petróleo já estava em queda, por causa da recessão, é provável que caia mais.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.