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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A Petrobrás sob a carga de fatores políticos

O compromisso do governo foi garantir desconto no preço do óleo diesel na bomba de R$ 0,46 por litro

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Atualização:

Pedro Parente se demitiu da presidência da Petrobrás porque ficou claro, para ele e para quem acompanhou tudo o que aconteceu nos últimos dez dias, que o governo Temer deixou de garantir o que tinha garantido antes: que não haveria interferência política nas decisões administrativas da empresa.

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Essa falta de garantia não é resultado das pressões de caminhoneiros, petroleiros e grande número de políticos mordidos pelo populismo de uma política de preços. É resultado da fragilidade do governo Temer, que hoje não passa de um zumbi. É um morto-vivo que só continua lá porque não vale a pena substituí-lo a quatro meses das eleições.

O compromisso do governo foi garantir desconto no preço do óleo diesel na bomba de R$ 0,46 por litro. O tabelamento se estende à refinaria e, também, à rede de postos de combustíveis, algo impossível de assegurar neste Brasil imenso, sujeito a impostos estaduais tão díspares.

A carta de demissão avisa que a política de preços da Petrobrás ficou sob intenso questionamento e que ele, Pedro Parente, “deixou de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente”. Se há alternativas em discussão, quais seriam elas?

A subvenção aos combustíveis não é invenção do governo Temer. Ao longo do governo Fernando Henrique também prevaleceram preços políticos. Para compensar as perdas da estatal e de outros produtores privados, instituiu-se a chamada Conta Petróleo. De tempos em tempos, a Petrobrás recebia a diferença que saía de reservas pouco transparentes do Tesouro. 

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Os governos do PT decidiram subsidiar o consumidor de combustíveis. Os preços permaneciam estáveis por longos períodos, sem que a Petrobrás tivesse sido devidamente ressarcida dos prejuízos que enfrentou. O resultado foi a erosão do caixa da empresa. Essa não foi a única distorção produzida por essa política de preços. Desde então, a Petrobrás não conseguiu interessados em entrar como sócios na construção de refinarias. Não queriam participar de um negócio fadado ao prejuízo.

A política da gestão Parente previa reajustes até mesmo diários, cujo critério levava em conta as cotações internacionais do petróleo e as oscilações do dólar no câmbio interno. Não foi essa política que produziu a explosão dos caminhoneiros. Foi o fato de que, ao longo desses anos, o governo federal e os governadores usaram os preços dos combustíveis para extorquir impostos. Por isso, os preços praticados no mercado interno saltaram aos níveis mais altos do mundo.

Além de subsidiar o consumo, a decisão do governo Temer tomada na semana passada foi manter estáveis os preços por 60 dias. Para compensar as perdas da Petrobrás e dos demais importadores de óleo diesel, o governo cortou despesas com saúde, transporte, educação. E ainda reverteu benefícios a exportadores e aos setores antes favorecidos com desonerações de folha de pagamentos.

Em princípio, são compensações que não passam firmeza, porque não podem ser previstas com segurança e não contam com colchão de provisões previstos em orçamento.

Se a decisão que prevalecer for a de que tanto a política de preços quanto a de desinvestimentos da Petrobrás passarão por critérios em última análise políticos e não mais técnicos, então fica claro que o desempenho da empresa ficará comprometido.

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Foi estranha a divulgação da demissão em pleno pregão da Bolsa. Alguma coisa pode ter acontecido para que Parente não pudesse mais esperar pelo fechamento dos negócios.

O final da carta de demissão tem lá uma contradição. Parente sugere que Temer escolha o novo presidente não em bases intervencionistas, mas em “regras corporativas”. Ou essa sugestão é inútil e, nesse caso, não deveria ter espaço na carta ou tem razão de ser e, nesse caso, não haveria razões especiais para que Parente deixasse a Petrobrás.

O presidente Temer garantiu independência administrativa ao novo presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro. Ou seja, aquilo que Parente não conseguiu está prometido para Monteiro. Alguém confia nisso?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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