27 de fevereiro de 2015 | 02h04
Ainda é difícil de vislumbrar, com um mínimo de clareza, em que medida essa nova fase poderá tumultuar o quadro político do País e afetar os limites e possibilidades da condução da política econômica. Mas já é o momento de tentar analisar o que poderá ocorrer.
No governo, há quem alimente a esperança de que a lista de parlamentares implicados sirva para enfraquecer o PMDB, pôr fim à rebelião que prospera na sua bancada no Congresso e restaurar a confiabilidade do seu apoio parlamentar. Mas há também quem tema que, ao propiciar percepção avassaladoramente concreta da real extensão do alcance do petrolão, a lista de políticos implicados possa tornar os desdobramentos do escândalo ainda mais desgastantes para o Planalto.
Não são possibilidades mutuamente exclusivas. É bem possível que a lista enfraqueça em alguma medida o PMDB e, ao mesmo tempo, fragilize o governo e o impeça de reconstituir uma base parlamentar confiável. A menos do cenário róseo e pouco crível em que a lista ajudaria a restaurar a ascendência do Planalto sobre o Congresso, o que se vislumbra são evoluções do quadro político que poderão trazer sérios problemas para a condução da política econômica. E que tenderão a agravar ainda mais as dificuldades que o governo já enfrenta no Congresso para, de um lado, aprovar as medidas de ajuste fiscal, e, de outro, impedir a aprovação de medidas impensadas.
O governo não tem conseguido esconder sua tensão com a perspectiva de agravamento do quadro político que poderá se seguir à divulgação da lista do procurador. No Planalto e no PT, os nervos estão à flor da pele. Basta ter em conta a desajuizada conclamação feita por Lula esta semana, num conturbado ato em defesa da Petrobrás no Rio: "Quero paz e democracia, mas eles não querem. Mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas".
Crescem no governo os sinais de desalento com a possibilidade de aprovação do pacote fiscal, sem desfigurações, quando nem mesmo a bancada do PT se dispõe a respaldá-lo. Tendo em vista as vertiginosas quedas de popularidade e de imagem que enfrenta a presidente, não falta quem, a cada dia, tente convencê-la de que pode ser desavisado apostar as parcas fichas que lhe restam num longo processo de ajuste macroeconômico, cujos frutos, com sorte, só poderão começar a ser colhidos em algum ponto remoto de 2016.
Alarmada agora com a possível escalada das dificuldades que deverão emanar do petrolão, a presidente parece ter decidido dar por encerrado seu modesto esforço de reconhecimento de erros cometidos na gestão da política econômica. Certa de que não é mais o momento de fazer mea culpa, e sim de cerrar fileiras com os velhos escudeiros do primeiro mandato, ela decidiu dar o dito por não dito na anunciada substituição do presidente do BNDES.
Pesados e medidos os custos e benefícios, Dilma confirmou que Luciano Coutinho deverá permanecer no cargo, mesmo tendo em conta o papel central que desempenhou no desastroso retrocesso fiscal dos dois últimos mandatos presidenciais. Pouco ou nenhum peso parece ter sido dado ao efeito deletério que tal confirmação poderia vir a ter sobre a credibilidade da promessa de mudança do regime fiscal no segundo mandato. Péssimo sinal.
Temendo que, com o governo fragilizado pelo petrolão, a persistência no programa contemplado por Joaquim Levy possa se tornar insustentável, Dilma parece estar deixando espaço para um recuo. O que ainda não percebeu é que, a esta altura, caso queira se livrar de Levy, a rota de escape que lhe resta é ainda pior que a da "sarneyzação".
*Rogério L. Furquim Werneck é economista, doutor pela Universidade Harvard e professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio
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