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A recuperação está aí, mas a economia ainda não embalou

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Por Redação
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Análise: José Paulo KupferO governo, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, à frente, está trombeteando uma série de indicadores recém-divulgados, referentes a junho e julho. Esses indicadores estão apontando, com mais nitidez, para o início da recuperação da economia, depois de um período de esfriamento. Mantega comemorou os números do comércio varejista em junho e a abertura de vagas de emprego formal em julho. Comemorou também o índice de crescimento econômico do Banco Central (IBC-Br), de junho, divulgado ontem. O IBC-Br é um indicador antecedente do nível de atividade, cujo resultado concretamente medido será divulgado pelo IBGE no fim deste mês. O ministro está no papel dele. Mas, para quem observa o desenrolar da conjuntura econômica, nem as informações agora conhecidas trazem a novidade do início de uma recuperação surpreendente, nem permitem embarcar na canoa ultraotimista de Mantega. Pelo andar da carruagem - e a evolução dos indicadores da atividade econômica -, era possível acreditar, já há algum tempo, que o fundo do poço do ciclo de esfriamento tivesse sido alcançado em maio. Se junho, de fato, mostrou comportamento misto, com setores já apresentando recuperação e outros ainda em baixa, os indicadores de julho estão vindo com resultados melhores em maior número de segmentos, mas não em todos.O IBC-Br de junho apontou uma expansão de 0,75% sobre maio. No segundo trimestre, no entanto, a alta foi próxima de 0,4% sobre os três meses anteriores. Pelo IBC-Br, no primeiro semestre, o crescimento ficou perto de 0,7%. Esse ritmo expressa uma expansão anualizada da economia nas vizinhanças insatisfatórias de 1,5%. As projeções dominantes apontam para uma variação positiva do PIB no ano entre 1,5% e 2%. Se tais estimativas estiverem corretas, o crescimento nos dois próximos trimestres, principalmente neste terceiro, não será grande coisa. Julho deve ser melhor que junho, agosto melhor que julho e assim por diante. O comportamento da conjuntura econômica neste segundo semestre ainda depende das ações do Banco Central e do Ministério da Fazenda. Se o BC acentuar o corte dos juros, derrubando a taxa básica nominal para 7% ao ano, transmitirá a indicação de que a recuperação não estaria sendo tão rápida. Se, ao contrário, encerrar o já longo ciclo de redução da taxa Selic com um corte maior em agosto ou dois menores, em agosto e outubro, estacionando em 7,5%, dará suporte a expectativas de que o ritmo de retomada ganhou mais velocidade. No caso da Fazenda, o jogo a ser acompanhado é o da ampliação ou suspensão dos incentivos fiscais ao consumo e do aperto ou alívio no controle dos gastos públicos. No caso da ampliação ou prorrogação dos estímulos, o sinal será de que, na visão do governo, a economia ainda precisa ser empurrada. Adotada a outra alternativa, ficará mais claro que o empurrão anterior já terá sido suficiente.O filme da evolução econômica em 2012, de todo modo, já está razoavelmente definido. E deverá mostrar uma curva ascendente, trimestre a trimestre, com inclinação suave. A tendência da trajetória é positiva, mas a velocidade do avanço dependerá ainda do comportamento da economia internacional - e esta não deverá ajudar a embalar o trem do crescimento.

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