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Repórter especial de economia em Brasília

‘A redução da meta não é para se gastar mais’

Ministro nega divisão na equipe econômica e diz que está unido com Joaquim Levy na busca do reequilíbrio de contas

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Um dia depois do anúncio da revisão da meta fiscal que gerou dúvidas sobre divisão na equipe econômica, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que está unido com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em busca do reequilíbrio das contas públicas o mais rápido possível. Em entrevista ao Estado, o ministro afirma que não há disputa com Levy e nem divisão da equipe. Aos poucos, afirma, a reprogramação fiscal será assimilada pelos críticos. “A redução da meta não é para se gastar mais”, diz ele, que defende a definição de metas de crescimento para o gasto com o objetivo de barrar a sua expansão. A seguir, os principais trechos da entrevista. A revisão mostrou que há um rombo de R$ 75,9 bilhões nas contas. Esse valor é a distância da meta anterior de R$ 55,3 bilhões para o déficit previsto de R$ 20,6 bilhões com o abatimento. Não é problema estrutural?  Achamos que vamos fazer o superávit de 0,15%. A meta antiga não é mais uma referência. Ela foi formulada com outro cenário de crescimento e, sobretudo, de receita. Estamos adaptando a estratégia, mas mantendo a mesma direção.As projeções de queda da dívida pública não convenceram.  Esse modelo é o que sempre usamos. É feito pelo Banco Central. Entendo que as pessoas possam ter diferentes projeções, porque envolvem várias variáveis. É normal. Mas estamos adotando a mesma metodologia adotada para cálculo na LDO.A percepção que ficou é que será difícil o País sair do imbróglio fiscal.  Você sai. No gasto obrigatório, por requerer uma modificação legal, os ajustes são normalmente na margem, na taxa de crescimento é mais devagar. Temos uma agenda de controle do gasto com pessoal e temos uma agenda para a Previdência, que já começou. 

Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa Foto: Andre Dusek/Estadão

O abatimento não fragiliza a credibilidade?  Não acho. Temos de evoluir para um sistema em que o mais importante é manter o resultado primário sempre. O governo tem que ter um resultado primário compatível com a estabilidade fiscal. Isso é obrigação de qualquer governo. A forma que se obtém o resultado primário também é importante. Por isso, dentro da meta de resultado primário, temos que ter uma meta de crescimento de gasto. Mas isso não é uma meta global. A gente faz isso individualmente.É algo para o futuro?  Já estamos tentando fazer isso. Não é uma coisa global. Mas é importante termos uma meta de trajetória de crescimento de gasto. Mas essa meta de crescimento já foi tentada em outros momentos.  Foi tentada para o gasto com pessoal. Na prática, o que estamos fazendo é um pouco isso. Não acho que é operacionalmente possível hoje você ter uma meta de crescimento única para todos os gastos. Cada gasto tem uma dinâmica diferente. Como você enfrenta isso? Com propostas para cada tipo de gasto.O governo pensa em institucionalizar essas metas no futuro?  Por enquanto, não. Não tem nada definido. Estamos trabalhando mais com pessoal mais como referência. Dá para vislumbrar em quanto tempo teremos um quadro fiscal melhor?  O nível de atividade começa a melhorar até o final do ano e o quadro fiscal vai começar a ficar melhor também. E isso vai ganhando força no ano que vem. Os críticos têm falado em enfraquecimento e relaxamento fiscal. Não tem afrouxamento fiscal quando se faz uma medida que em que há aumento do corte do gasto. Não é só isso que está impactando o mercado hoje, tem fatores internacionais. Com o tempo, à medida que as pessoas perceberem, será assimilado.O sr. esteve com o presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele é critico do ajuste. Fui apresentar as razões da revisão da meta e quais são os planos, tanto do primário quanto do controle de gasto. E importância de aprovar essas medidas de receita. Ele tem feito sugestões que são incorporadas para tentar melhorar a nossa estratégia. Apresentamos as nossas ações e ele vai avaliar e se manifestar no momento que achar adequado.O sr. tem uma queda de braço com o ministro Levy?  As pessoas tendem a personalizar disputas que não existem. Não tem disputa. Está todo mundo trabalhando pelo mesmo objetivo. Uma situação como essa é bem complexa e sujeita a várias interpretações. Toda a equipe econômica, que aliás não se resume aos ministérios da Fazenda e Planejamento, e que inclui nesse caso a Casa Civil, está trabalhando conjuntamente para ter reequilíbrio fiscal mais rápido possível.Não tem divisão com o ministro Levy?  Não. As avaliações e decisões de política econômica devem ser debatidas profundamente até se chegar ao consenso. Não se deve confundir esse debate, que é natural, com decisão sobre mérito. Estamos unidos na mesma direção, que é a busca pelo reequilíbrio fiscal, a retomada do crescimento e o aumento da produtividade, que no final das contas e mais importante.

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