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A revolução das pombas

Governo Bolsonaro terá de demonstrar bons resultados

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Por Paulo Leme
Atualização:

É comum vermos um repique significativo nos mercados em janeiro, tanto em termos de volume como de preço. Já que os gestores iniciam o ano com seu placar de desempenho zerado, na largada eles partem com um viés bullish (otimista), voltando a investir no mercado parte da carteira que estava aplicada em ativos líquidos. Os analistas ecoam esse comportamento adotando um tom mais benigno nos seus relatórios de pesquisa. 

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Observamos esse comportamento em janeiro de 2018: os mercados largaram à toda velocidade até fevereiro, quando sofreram o primeiro tropeção do ano. O baque foi causado por um tom mais hawkish (agressivo) do banco central americano (Fed), avisando ao mercado que ele iria acelerar o ritmo do aperto da política monetária em 2018. O mercado reduziu risco rapidamente e em seis semanas o índice S&P 500 caiu 10%. 

Em janeiro de 2019 o mercado começou o ano a todo vapor. Nos Estados Unidos, o índice da Bolsa S&P 500 subiu 14%, recuperando 71% da queda de 19,6% sofrida no quarto trimestre de 2018. No Brasil, o índice Bovespa subiu 11,5% em reais. Dado o otimismo do mercado com o governo Bolsonaro, desde setembro de 2018, o Bovespa subiu 31,2% em reais, ou 52% em dólares. 

À luz deste comportamento positivo das bolsas de valores no exterior e no Brasil, é importante entender porque o mercado ficou tão otimista em 2019. Será algo efêmero como o efeito janeiro ou algo duradouro, como uma melhora dos fundamentos macroeconômicos globais? 

A grande novidade para o mercado foi a perspectiva para uma política monetária mais frouxa nos Estados Unidos e, em menor grau, na Europa. Na medida em que o mercado derretia em dezembro, o presidente do Fed Jerome Powell e o comitê de política monetária do Fed mudaram completamente as diretrizes da política monetária. Nas suas últimas duas reuniões, o Fed adotou um tom dovish (brando), sinalizando que é pouco provável que ele irá aumentar as taxas de juros em 2019. Além disso, o Fed interrompeu o seu programa de venda de ativos em carteira, o que afrouxa o aperto quantitativo da política monetária. O mercado de juros precificou imediatamente que em 2019 o Fed não vai aumentar a taxa de juros, comparado com uma expectativa de quatro aumentos de 0,25% antes dos anúncios. Eu prefiro trabalhar com a hipótese de que teremos pelo menos um aumento da taxa juros este ano. Na Europa, o presidente do Banco Central Europeu sinalizou que só irá aumentar a taxa de juros a partir de 2020.

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A expectativa de juros mais baixos e ativos mais baratos explicam a retomada do apetite por risco e a recuperação dos mercados em janeiro. O mercado chama este efeito de “Powell put”: ao adotar uma política monetária mais frouxa, o Fed prolongou a longevidade do bull market (tendência de alta). 

É inquestionável a potência da política monetária do Fed nos Estados Unidos para ditar a direção e o vigor de alta dos mercados, mas não é óbvio que 2019 será um ano fácil para os mercados financeiros globais. A principal razão é que, desde outubro de 2018, os fundamentos macroeconômicos globais pioraram, já que a economia mundial continua a se desacelerar. Além disso, a natureza errática da gestão Trump, como o risco elevado de um agravamento da guerra comercial e seus enfrentamentos com o Congresso, geram incerteza e reduzem a confiança do consumidor e dos investidores.

No dia 21 de janeiro o FMI reduziu as suas previsões para o crescimento global de 3,7% para 3,5% para 2019, prevendo que o crescimento do PIB nos Estados Unidos, Europa e China desacelerarão para 2,0%, 1,6% e 6,2% em 2019 versus 2,9%, 1,8% e 6,6% em 2018. 

No Brasil, a performance do índice Bovespa tem sido espetacular. No entanto, parte destes ganhos é a combinação da redução do prêmio de risco das ações; o rebalanceamento das carteiras por parte dos investidores nacionais e estrangeiros; e a recuperação dos mercados internacionais.

O índice Bovespa pode ir bem além de 100 mil pontos. Para que isso seja possível, o governo Bolsonaro terá de demonstrar bons resultados em matéria de política econômica e o Brasil terá de voltar a crescer de forma vigorosa e sustentável. Ou seja, o preço das ações só continuará a subir caso a economia e o lucro das empresas cresçam de forma robusta e sustentável.  *PROFESSOR VISITANTE DE FINANÇAS NA UNIVERSIDADE DE MIAMI 

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