Mas, dizem os jornais, não há um entendimento em termos de uma agenda de reformas (Agenda Brasil)? O governo não se fortaleceu após os últimos acordos políticos?
Minha resposta é, claramente, não. O que se evitou foi um colapso prematuro do mesmo, que vinha em queda livre até alguns dias atrás. Apenas isso. A fraqueza e a precariedade do suporte político continuam, o que ficará claro em poucos dias.
É preciso ter em mente pelo menos duas coisas: a Agenda Brasil é composta por 43 itens. Ora, quem quer tudo, não quer nada. O movimento foi muito mais político e não programático. Por outro lado, a situação econômica é cada vez mais difícil, o que está retratado nas projeções de queda do PIB (nós, da MB, já trabalhamos há tempos com uma queda superior a 2%). É preciso lembrar que:
- a inadimplência das pessoas físicas deve começar a se elevar a partir de setembro, seis meses depois do início da importante redução de quadros que as companhias estão fazendo. A experiência mostra que um semestre é o tempo médio em que a indenização e o seguro desemprego conseguem pagar as despesas das famílias, após a perda do trabalho. A taxa de desemprego para o Brasil (PNAD contínua, com ajuste) ainda vai crescer até o final do ano, para quase 10%. Comércio e serviços sofrerão mais a partir de agora.
- a perda de valor das empresas está se acentuando, e vai muito além da construção pesada. A queda de vendas e as restrições de crédito estão se generalizando. Muitas vão sair do mercado até 2016, inclusive companhias grandes. A elevação do crédito pela Caixa e pelo Banco do Brasil, anunciadas nesta semana, não vai alterar este fato e é uma lamentável recaída na política de auxílio a campeões nacionais, parte essencial do naufrágio do primeiro mandato da Presidente Dilma.
- o ajuste fiscal não aconteceu e vai ficar, quem sabe, para o ano que vem.
Do ponto de vista das pessoas e das empresas, reafirmo o que coloquei recentemente neste mesmo espaço: temos um deserto a atravessar (que irá, pelo menos, até o final de 2016) e um futuro a preparar. Digo isso por estar evidente que, do ponto de vista econômico, a organização do crescimento se dará com duas grandes diferenças, pelo menos, em relação ao passado recente. Só voltaremos a crescer se reorganizarmos mais profundamente as finanças públicas e se deixarmos de imaginar que o Estado será o condutor de todas as fontes de crescimento do País (o que não tem nada a ver com o Estado mínimo neoliberal e outras tolices semelhantes), especialmente como empresário e investidor direto. O fracasso dos projetos Petrobrás (e fornecedores) e Eletrobrás (lembram-se, a que se transformaria num player global!!!) não podem ser mais eloquentes.
Em segundo lugar, é seguro que o investimento e o crescimento só voltarão num contexto de economia mais aberta, competitiva e na qual a elevação da produtividade e do padrão tecnológico seja central.
Entretanto, mesmo em meio às turbulências do curto prazo, já se pode dizer que as companhias deveriam evoluir na direção de quatro pontos básicos. Muitas já o fazem. 1)Esforço na direção da redução de custos, da revisão da política de crédito para clientes e fornecedores e de evoluir na direção das melhores práticas. É imperioso elevar a produtividade como um todo.
2)Reforçar as linhas de exportação e a internacionalização. Aproveitar a maior competitividade da produção local em relação às importações. Observar as eventuais oportunidades de nacionalização de produtos e componentes.
3)Haverá uma enorme consolidação nos diversos setores afetados pela recessão, bons ativos estarão disponíveis a preços razoáveis. Entretanto, apenas a força do balanço é que possibilitará se aproveitar dessa situação.
4)Uma vez que os Tesouros estão exauridos é urgente diminuir a dependência de favores fiscais e de crédito subsidiado, em todos os níveis de governo.