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A substituição do dólar

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Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Mais importante do que a proposta é a motivação da proposta. O presidente do Banco Popular da China (o banco central chinês), Zhou Xiaochuan, está defendendo a criação de nova moeda internacional de reserva a ser emitida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Não é difícil entender por que Zhou levantou essa bandeira. A China detém US$ 1,9 trilhão em reservas, das quais pelo menos US$ 739,6 bilhões estão aplicadas em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Enquanto o Federal Reserve (o banco central americano) despeja dólares no mercado "de helicóptero" para socorrer bancos e injetar recursos na veia da economia, o Tesouro é obrigado a emitir mais e mais títulos para cobrir o déficit orçamentário que vai a US$ 1,8 trilhão por ano. Cada vez mais, cavalares emissões de moeda e de dívida carregam enorme potencial de perda de confiança no dólar e nos títulos do Tesouro americano. Trocar dólares em quê? Ouro, estoques de commodities, barris de petróleo ou o que seja não garantem nem reserva de valor nem conversibilidade instantânea. As outras moedas fortes que zanzam pelo mercado, como o euro e o iene, não têm, no momento, nem a densidade nem a credibilidade necessárias para tomar o espaço ocupado pelo dólar. Como não há nenhum ativo no mundo capaz de substituí-lo, é difícil imaginar que possa haver uma repentina rejeição do dólar no mercado mundial. Enfim, a China sente que seu patrimônio em dólares corre perigo, mas não tem outra opção que possa substituí-lo com alguma vantagem. Outra aflição crescente nos quadrantes do mundo é a de que a economia, as finanças e o mercado monetário se globalizaram e, no entanto, os organismos encarregados de pilotar as moedas continuam locais. O Banco Central Europeu cuida da moeda única de 16 países, mas é um caso isolado que, de resto, não conseguiu até agora alçar o euro à condição de moeda internacional de reserva, provavelmente porque seus dirigentes políticos, além de medíocres, não se entendem. A ideia de promover os Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), a moeda do FMI, à condição de moeda de reserva não tem combustível para rodar mais do que uns metros. Primeiramente porque o maior país do mundo rejeita a proposta. Segundo, porque a moeda corresponde ao capital do FMI que, por sua vez, se baseia nas moedas já existentes, que não conseguem substituir o dólar. E, terceiro, se o Fundo tivesse condições de emitir moeda teria, também, de exercer funções de banco central. Um dos maiores especialistas na matéria, o Prêmio Nobel de 1999 Robert Mundell, prevê que, dentro de mais alguns anos, o mundo não terá outra saída senão convergir para uma meia dúzia de moedas. Mas, para isso, as tais zonas ótimas (conjunto de países) teriam de unificar suas políticas macroeconômicas. É claro que, na condição de presidente de um grande banco central, Zhou Xiaochuan sabe que pede o pote de ouro que há atrás do arco-íris. Ele apenas lança mais dúvidas sobre a saúde do dólar para levar alguma vantagem em troca de ficar calado. Não foi à toa que ontem três altas personalidades do governo americano, Tim Geithner, Ben Bernanke e Paul Volcker, entenderam que devessem dar respostas contundentes a ele. Confira Melhorou - O ex-presidente Fernando Henrique reconheceu ontem no fórum sobre os 15 anos de Plano Real, realizado no anfiteatro da Federação do Comércio, que a economia brasileira está melhor hoje do que no tempo dele. E arrematou: "Assim como espero ter entregue ao presidente Lula um Brasil melhor do que aquele que recebi do presidente Itamar, espero que a gente possa recebê-lo de volta melhorado por ele." Mas Fernando Henrique não foi apenas paz e amor. Repetiu as acusações de "cupinização do governo" e de que o PAC não passa de um Programa de Aceleração da Comunicação: "É PAC, PAC, PAC", disse.

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