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A sucessão de Meirelles no BC

Por Suely Caldas
Atualização:

Foi dada a partida para a substituição de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central (BC). Nos últimos dias foi mais intensa a movimentação no governo, nomes de candidatos circulam e são trabalhados, o PT quer opinar, não ficar de fora. A troca de comando no BC em plena crise econômica seria politicamente delicada e arriscada se concretizada de forma súbita e inesperada. Mas não é o caso. Há tempos Meirelles avisou a Lula e ao mercado que sairia - vai retomar sua carreira política, interrompida em 2003 para assumir a presidência do BC, depois de eleito deputado pelo PSDB de Goiás. Na época renunciou ao mandato e ao partido. Sua substituição, portanto, não será traumática nem promete desencadear movimentos especulativos no mercado financeiro. Até por se tratar de um mandato-tampão, não há muitos candidatos. As alternativas se estreitam porque a maioria dos ministros, a direção do PT e o próprio Lula têm preconceito contra nomes de fora, com experiência prática e não só teórica no mercado financeiro. Não estamos mais em 2002, quando o pânico-Lula quase levou o País à catástrofe e era fundamental colocar no BC alguém de mercado que afastasse o risco de moratória e de outras maluquices que o PT pregou no passado. Meirelles negociou condições e topou, depois de outros terem rejeitado por temer não ter autonomia para fazer o que precisava ser feito sem interferências de Lula e do PT. A situação hoje é diferente. A inflação, que sempre apavorou Lula, está controlada e a queda na demanda decorrente da crise vai ajudar a mantê-la baixinha. O problema da economia agora é gerar empregos e crescimento econômico. E é desse diagnóstico que tem despontado com força o nome de Luciano Coutinho para substituir Meirelles. Economista com doutorado nos EUA e profícua experiência em economia industrial, Coutinho já deu mostra de que não aceita cargos no governo só para estar no poder. É preciso que a função tenha relação com sua especialização e lhe dê chance de aplicar o que estudou e aprendeu. Antes de assumir a presidência do BNDES foi sondado para ser ministro do Planejamento. Recusou. Não queria cuidar de controle orçamentário. No governo, Luciano está mais para Dilma Rousseff, que admira sua competência, do que para Guido Mantega. E Lula costuma ouvir seus conselhos. Sua gestão é elogiada por empresários e reconhecida por economistas rivais. E ele próprio acha que está no lugar certo, onde pode dar o melhor de si. Sobretudo agora, embalado pelo megarreforço de R$ 100 bilhões no orçamento do banco e o desafio de comandar no governo a missão de superar a crise, gerar investimentos, crescimento e empregos. Tirá-lo do BNDES seria um erro que ele não pretende facilitar. Há mais dois candidatos que há tempos estão no banco esperando Meirelles sair de campo. Se dependesse de Guido Mantega, o economista Luiz Gonzaga Beluzzo seria o novo presidente do BC. Mas o mercado financeiro vê a indicação com olhar atravessado e o próprio Beluzzo teria desistido. Além do entusiasmo pelo trabalho na presidência do Palmeiras, o mandato-tampão no BC não chega a dois anos, tempo curto demais para implementar uma linha própria de ação. O outro é prata da casa. Funcionário de carreira do BC, doutor em Economia pela Universidade de Illinois (EUA) e com passagem pelo Fundo Monetário Internacional em Washington, o gaúcho Alexandre Antonio Tombini, 45 anos, trabalhou em diversas áreas no banco e hoje é diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro. Sua experiência foi testada e aprovada em reunião ministerial, convocada por Lula no final de setembro para uma avaliação da crise. Ele substituía Meirelles, que estava no exterior, e a análise que fez na reunião foi elogiada por Lula e demais ministros. Apesar dos conflitos entre Meirelles e Mantega, Tombini tem boas relações com os dois. Há uma quarta alternativa pouco lembrada, mas que tem a vantagem de sair de dentro do PT. Trata-se do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Economista e mestre em Ciência Política, Pimentel tem boa experiência em gestão pública na área econômica e seu nome foi defendido pelo ex-ministro Antonio Palocci para substituí-lo no Ministério da Fazenda. Como Palocci, é um petista politicamente arejado e com boa aceitação no mercado financeiro. Mas seu desejo é disputar o governo de Minas Gerais em 2010. Espera de Lula um cargo no governo que lhe dê visibilidade política até as eleições, não o BC, que vive aumentando juros. *Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio (sucaldas@terra.com.br)

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