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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A troca de Luna por Pires

A mudança no comando da Petrobras, além de não conter as pressões sobre a empresa, parece ser mais um efeito especial usado pelo presidente Bolsonaro para impressionar seu eleitorado

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Atualização:

Ficou a impressão de que a substituição intempestiva do presidente da Petrobras não passou de uma operação popularmente conhecida como troca de seis por meia dúzia.

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O economista Adriano Pires, nome indicado à presidência, que deve tomar posse dia 13, não pensa substancialmente diferente do presidente demitido, o general Joaquim Silva e Luna.

Ambos entendem que a interferência do governo nos preços dos derivados de petróleo produz mais distorções do que a manutenção do critério atual, o da Paridade Internacional de Preços, que é determinado pelas cotações em dólares vigentes no mercado internacional convertidas em reais pelo câmbio do dia.

Nem mesmo se pode dizer que Pires diverge de Silva e Luna quando recomenda que a Petrobras evite transferir a volatilidade dos preços ao mercado de consumo. O último reajuste no preço dos combustíveis determinado na gestão de Joaquim Silva e Luna, em 10 de março, guardou o espaçamento de 57 dias em relação ao reajuste anterior.

Troca no comando da Petrobras não deve determinar o fim da política de paridade internacional realizada pela empresa. Ilustração: Marcos Müller/Estadão Foto:

Tudo se passa como se o presidente Jair Bolsonaro (PL) pretendesse apenas produzir efeito especial para impressionar a plateia. Foi o que fez também em fevereiro de 2021 quando demitiu o presidente anterior, Roberto Castello Branco, supostamente porque não via nele acolhimento às reivindicações dos caminhoneiros.

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Nesta última terça-feira, Silva e Luna, já na condição de demissionário, advertiu que a Petrobras não pode usar os preços dos derivados para fazer políticas públicas e, muito menos, para fazer política partidária. Ou seja, o pretendido achatamento dos preços dos derivados não cumpriria outra função que não fosse eleitoreira.

Mas, se isso é assim, por que nova troca, apenas um ano depois, que se seguiu a uma fritura pública de Silva e Luna, se uma mudança na política de preços continua improvável?

Boa hipótese de explicação é de queBolsonaro finalmente entendeu: o que seu governo obtém da Petrobras em receitas com impostos, royalties, contribuições especiais, dividendos e juros sobre capital próprio proporciona um volume substancial de recursos que podem ser usados para suas políticas sociais. Esses recursos seriam substancialmente mais baixos se os preços fossem achatados.

Em outras palavras, o retorno eleitoral do uso político desses recursos é bem mais expressivo do que a redução em alguns centavos no preço do litro da gasolina e do diesel que pudesse obter com a intervenção na política de preços da Petrobras.

No ano passado, muito antes da disparada dos preços do petróleo, a Petrobras recolheu aos cofres públicos R$ 203 bilhões em impostos, royalties e participações especiais (incluídas aí as parcelas de Estados e municípios) e R$ 37,3 bilhões apenas em dividendos ao Tesouro Nacional. O salto nos preços ocorrido neste ano deverá aumentar expressivamente esses volumes ao longo de 2022. O resto é encenação. 

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*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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