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A vez dos emergentes

Por celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Ontem, este espaço tratou do aumento da importância dos emergentes: as crises econômicas agora ocorrem nos países ricos; são os emergentes que emprestam recursos aos campeões mundiais da produção; a ameaça de recessão nos Estados Unidos já não consegue afundar o resto, desde que os emergentes sigam seu curso. Ao final do texto, ficou a observação: ''''conseqüências geopolíticas virão a galope''''. Bom exercício é identificar algumas delas. Antes disso, convém perguntar se esse quadro veio ou não para ficar. Certos analistas entendem que o crescimento dos emergentes, especialmente o da China, é insustentável. E apontam duas razões para isso: (1) ele se baseia na simbiose entre Estados Unidos e China - um arranjo precário; e (2) não há petróleo nem matérias-primas que garantam essa expansão quase ilimitada. São razões a levar em conta, mas que não podem ser exageradas. A escassez de matérias-primas e insumos é discutida desde os anos 60 pelos cientistas então reunidos no Clube de Roma. Se as previsões deles tivessem se confirmado, o apocalipse já teria chegado. No entanto, a economia seguiu seu curso, sem ligar para tais advertências neomalthusianas, que pouca importância dão à inovação tecnológica, às descobertas de jazidas minerais ou à reciclagem de materiais. Ainda que o ímpeto dos emergentes possa ser reduzido, é difícil refutar a idéia de que durará pelo menos mais dez anos. O ciclo de expansão da economia americana já tem mais de um século. Isto posto, vamos às ''''conseqüências''''. Ontem o professor Amir Khair sugeria que uma delas pode ser a de que os países ricos já não se atirarão tão facilmente como antes a assumir posições estratégicas em fontes de suprimentos de insumos básicos. Guerras de ocupação, como a do Iraque, ficam mais difíceis. A Rússia elevou para oito o clube dos ricos, que antes era restrito ao Grupo dos Sete. Como já vem acontecendo entre os emergentes, ao menos os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) serão cada vez mais chamados para assumir responsabilidades globais. Diante da atual escassez de ativos no mundo, é provável que aumente a procura de títulos, ações e imóveis de emergentes. Será boa oportunidade de capitalização do setor produtivo brasileiro. Essa tendência será acentuada se diminuir a importância do dólar como moeda de reserva. Mas o movimento contrário já provoca reações nacionalistas nos países ricos. Os Estados Unidos já impediram que exportadores de petróleo adquirissem terminais em território americano. Na Alemanha e na França, os políticos temem que emergentes usem seu cacife para comprar posições acionárias em empresas dotadas de tecnologia de ponta. Falha nossa O acréscimo anual ao PIB da China já é maior do que o acréscimo anual ao PIB americano. Essa é a frase correta. E não como saiu ontem: ''''A economia da China já produz mais riqueza do que a dos Estados Unidos.''''

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