Se a recuperação da economia ainda é incipiente, os mais recentes indicadores atestam, ao menos, um fato: o pior da recessão na indústria ficou definitivamente para trás. Na terça-feira, o IBGE divulgou que a produção industrial cresceu 1,1% em junho em relação a maio, no quarto mês consecutivo de expansão. Outro indicador vem alimentando o otimismo de analistas e investidores: o nível de estoques.
Em julho, conforme levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os estoques excessivos na indústria caíram novamente. Aliás, a queda já é significativa se comparada com o pico da crise em meados de 2015. No ano passado, no momento mais crítico da recessão, os estoques excessivos chegaram a superar em cerca de 20 pontos os estoques insuficientes relatados pelos diferentes setores da indústria, segundo a FGV. No dado mais recente, referente a julho, divulgado na semana passada, essa diferença caiu para a metade. Quando os estoques se tornam excessivos, a indústria para de produzir. E quando eles estão insuficientes a empresa tem de produzir mais não somente para atender à demanda como também para repor esses estoques.
Importante também tem sido a queda na proporção de setores da indústria superestocados, ou seja, quando o número de empresas com estoques excessivos supera em 10% o de companhias que reportam estoques insuficientes. No auge da crise, em meados de 2015, a proporção de setores industriais superestocados bateu em 80%. Em julho, esse patamar caiu para 35%. É ainda um número elevado de setores superestocados, mas a queda mostra uma melhora substancial. Se esses dois indicadores seguirem caindo – o de estoques excessivos e de proporção de setores superestocados – o nível de produção da indústria deve se acelerar.
Não se deve esperar que uma virada na produção industrial resultará em melhora imediata do desemprego. Uma das razões é que o emprego reage com uma defasagem muito maior do que a produção da indústria ou as vendas do comércio durante o período de recuperação econômica. A indústria, aliás, é um dos segmentos mais cíclicos da economia: é o primeiro que costuma a entrar numa recessão, mas também tende a sair dela antes que os outros. Outro motivo para não contar com a retomada da indústria para uma redução maior no número de desempregados, que já somam 11,6 milhões de brasileiros, é porque a maior parte da perda de vagas encontra-se nos setores de construção civil e de serviços.
Por outro lado, a melhora da indústria costuma andar lado a lado com os índices de confiança. E sem uma retomada na confiança de consumidores, empresários e investidores, fica difícil a recuperação da economia. A avaliação sobre o nível dos estoques pela indústria reflete um otimismo em relação ao que se espera para a economia no futuro próximo, numa aposta de melhora da demanda pelos consumidores.
Todavia, a avaliação do nível dos estoques e o resultado recente da produção industrial representam apenas uma estabilidade da atividade nesse setor – e, ainda, num patamar baixo. Em outras palavras, o vale da recessão industrial ficou para trás, mas ainda é cedo para falar em expansão. De fato, é uma melhora, porém frágil. Talvez porque os investidores e empresários ainda não tenham até o momento segurança total de que Michel Temer conseguirá se manter na Presidência até o fim de 2018. Um eventual afastamento definitivo de Dilma Rousseff no processo de impeachment que tramita no Senado pode injetar uma dose adicional de confiança nos agentes econômicos de que o governo será bem sucedido em aprovar o ajuste fiscal necessário, em especial a aprovação da emenda constitucional que limita o crescimento do gasto público.
Por enquanto, os dados sobre os estoques devem ser vistos como um indicador antecedente, apontando para um momento de virada da indústria. É preciso consolidar essa melhora. De qualquer forma, uma expansão mais consistente da indústria poderá puxar, na sua esteira, outros setores da economia, deflagrando um círculo virtuoso.