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A zona do euro pede ajuda

Por ALBERTO TAMER
Atualização:

A zona do euro apresentou esta semana um plano com medidas viáveis para atrair investidores externos para financiar sua crise. Vai apresentá-lo na reunião do G-20 nos próximos dias 3 e 4, em Cannes. É uma proposta viável - na verdade, a única até agora que representa um passo adiante, após mais de dois anos de discussões frustradas. É a redução da dívida grega, com os bancos perdoando 50% do valor total de 357 bilhões, e o reforço de recursos para o fundo de assistência financeira que está indo ao mercado para se capitalizar e financiar a saída da crise.Drama alemão. Foi uma solução com antecedentes dramáticos. Angela Merkel, para convencer o Congresso, num gesto que pode ser histórico para o país, usou o último recurso ao afirmar que "a Alemanha tem responsabilidade histórica com o passado" para manter a unidade europeia e a paz política na região. Referia-se às duas guerras que iniciou e, indiretamente, ao holocausto que assombrou o mundo. As medidas anunciadas não resolvem tudo, mas representam um grande passo para superar o clima de impotência dos governos da zona do euro. Pode-se até considerar muito tendo em vista o nada que se fez desde o início da crise, há dois anos. Na verdade, ela estava sendo anunciada há mais tempo. Ao todo, entre venda de títulos e ajuda dos governos, devem ser mais de 2 trilhões para socorrer os países com dívida superior ao PIB. Todos saem perdendo: bancos e governo. Não há ganhadores, nem a Grécia. Mesmo com esse desconto, aceitando intervenção e monitoramento de suas finanças, ela continua sob o peso de uma dívida acima de um PIB que recua e se aprofunda com a recessão.Há dúvidas. A reação do mercado financeiro e dos possíveis compradores dos títulos europeus, na sexta-feira, foi o que se poderia chamar de "expectativa positiva, mas cautelosa". Afinal, eles fizeram alguma coisa, foi animador, mas há ainda muitas dúvidas a esclarecer. Por exemplo, qual será o verdadeiro papel do Banco Central Europeu no financiamento da crise? Por que ele não está sendo mais incisivo, limitando-se a comprar títulos da Itália e Espanha, e isso mesmo com grande relutância? O novo presidente, Mario Draghi, afirmou que vai ser mais agressivo, adotará medidas "menos convencionais", mas enfrentará a oposição interna do banco, inclusive do representante da Alemanha. Quanto tempo levará para que o fundo especial, que será criado para garantir os títulos a serem emitidos, comece a funcionar? O Brasil tomou o caminho certo. Reagiu como no início da crise. Podemos ajudar a Europa, mas só comprando cotas do FMI. Não pretende comprar títulos de países isolados da zona do euro, mesmo que sejam garantidos pelo fundo. E mais: que os recursos não sejam só para socorrer os países endividados, mas todos que necessitem de ajuda. No passado, chegou a oferecer US$ 10 bilhões ao FMI que não usou quase nada. A crise agora é de todos. Pode-se dizer que Sarkozy e Merkel "internacionalizaram" a crise financeira da zona do euro. A palavra, agora, está com os presidentes dos países do G-20. No fundo, estão dizendo: "Olhem, isso é o máximo que nós conseguimos fazer para afastar o risco de uma crise financeira internacional que se agravava. Agora, cabe a vocês cooperarem. O grau de contaminação já é tão alto que a crise não é só nossa. É de vocês também."A resposta pode vir esta semana, em Cannes, mas pode ser adiada também. Faltam esclarecimentos que, ao que tudo indica, os governos da zona do euro ainda não estão prontos para apresentar. Não se falou muito sobre a Itália com uma dívida da ordem de 120% do PIB e um governo em eterna crise e relutante. Só conseguiu captar na sexta-feira 7,9 bilhões pagando 6% ao ano. As autoridades monetárias da zona do euro não esperaram. Saíram imediatamente à caça de novos países para investirem na sua crise. Os primeiros da lista foram China e Japão. Manoel Barroso, presidente da Comissão Europeia, tentou dourar a pílula. "Não estou implorando nada, estamos propondo um bom negócio; comprar títulos dos países da região é garantido pela UE, é lucrativos, vão render muito." Além disso, afirmou ele, é "coerente" que, com os grandes superávits, eles colaborem. As reservas dos países emergentes passam de US$ 4 trilhões.

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