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Abacate vira ''avocado'' e é exportado

Cerca de 3 mil toneladas da variedade de casca dura e polpa com maior teor de óleo são enviadas anualmente à Europa

Por Fernanda Yoneya
Atualização:

Se no Brasil o abacate ainda é visto como "fruta de fundo de quintal", no mercado externo a fruta brasileira já é reconhecida. O abacate exportado para Inglaterra, Holanda, França, Itália, Suécia não é, porém, o mesmo consumido tradicionalmente no mercado interno. Com casca dura, pouca água e rico em óleo, o "avocado", como são conhecidos os abacates das variedades hass e fuerte, tem demanda crescente no exterior, em países onde a fruta não é consumida como sobremesa, mas como salada e no preparo de vários outros pratos. "Como o consumidor brasileiro consome abacate com açúcar, praticamente não existe espaço no mercado interno para o avocado", diz a gerente de Marketing e Vendas da Fazenda Jaguacy, em Bauru (SP), Lígia Falanghe Carvalho. Parceria. A Jaguacy produz, em parceria com 25 agricultores de São Paulo, Minas e Goiás, 3 mil toneladas de avocado por ano e detém 85% do mercado da fruta do País. "Como o consumo interno é baixíssimo, 90% da produção é exportada", diz Lígia. O responsável pela introdução da fruta no Brasil, há 35 anos, foi o agrônomo Paulo Roberto Leite de Carvalho, pai de Lígia. O abacate hass veio dos Estados Unidos e a variedade fuerte foi trazida do México."Nosso foco sempre foi a exportação. O primeiro embarque para a Europa foi há 30 anos. Na época, meu pai aproveitou um problema climático em Israel, que era o principal fornecedor da Europa", conta Lígia. Hoje, os principais exportadores são Peru e África do Sul. O México, cujo ícone da culinária é o guacamole, é o maior produtor e consumidor da fruta. "Apenas em 1997 entramos no mercado interno, que hoje representa 10% da nossa produção", diz Lígia.O quilo do avocado para o consumidor final custa de R$ 4 a R$ 8, segundo Lígia, e este valor está atrelado ao maior custo de produção. "O cultivo do avocado e de outros tipos de abacate é semelhante. Mas o que encarece o custo de produção do avocado é a mão de obra, já que a colheita é 100% manual. Além disso, os frutos que não têm padrão de exportação - cerca de 15% da produção total - ainda não têm destinação certa", diz o engenheiro agrônomo André Dorizzotto, gerente da Fazenda Santa Cecília, em Bernardino de Campos (SP). Custos. Segundo o agrônomo, o custo médio para instalar 1 hectare de avocado é de R$ 8 mil. "Além da colheita, três vezes mais cara que a do abacate consumido no mercado interno, pesam os insumos (adubo, inseticida, fungicida, irrigação) e despesas com máquinas", diz ele. O proprietário da Santa Cecília, Carlos Thomaz Whately, é um dos produtores parceiros da Jaguacy. Trabalha com o avocado há dez anos, em duas fazendas, uma com 20 hectares e a outra com 30 hectares, entre plantas em produção e em formação. O volume entregue para a Jaguacy gira em torno de 300 mil quilos anuais.Já a renda do produtor está diretamente ligada à variação cambial, diz Dorizzotto. "Toda a produção é entregue na Jaguacy. Recebemos por quilo selecionado, mas em torno de 15% da produção é descartada por não conseguir padrão para exportação. Hoje, o preço do quilo selecionado deve estar em torno de R$ 1, mas esse valor varia em função do tamanho médio da fruta, do preço em euro na Europa e da cotação do euro no Brasil, entre outros fatores", explica.Certificação. Hoje, a Jaguacy coordena o negócio do avocado no País. Para exportar, possui a certificação Global Gap. Faz pesquisas em parceria com universidades, investe na produção de mudas resistentes a doenças - no viveiro da fazenda são produzidas 28 mil mudas de avocado por ano - e presta assistência técnica aos produtores. "Da análise de solo e do clima da região, passando pela compra de mudas, sistemas de irrigação, adubação, manejo de pragas e doenças, até a colocação do produto no mercado. Acompanhamos todas as etapas de produção", diz Lígia. Em contrapartida, os produtores parceiros entregam a colheita para ser distribuída por intermédio da Jaguacy.Padronização. Para atender ao exigente mercado europeu, é preciso padronizar a produção. A colheita é 100% manual e os frutos são colhidos no ponto ideal de maturação. "Assim como se calcula o brix de algumas frutas, no caso do avocado precisamos saber a quantidade de óleo na polpa e o teor de matéria seca do fruto para saber se ele está pronto para ser colhido. Isso tudo é feito em laboratório", explica Lígia. Mesmo com todos os cuidados, as perdas chegam a 25%. "Não é que o fruto esteja estragado, mas não atende aos padrões de exportação", diz Lígia."O padrão é estar livre de lesões, provocadas tanto por pragas como por doenças, e sem danos mecânicos ocorridos na colheita, por queimadura de sol, vento ou qualquer agente que lesione a casca do fruto. Além de estar no estágio de maturação ideal para ser colhido (polpa com 23% de matéria seca)", afirma Dorizzotto. A agrônoma Tatiana Cantuarias-Avilés, que presta consultoria técnica para produtores de abacate, explica que a denominação "avocado" é estratégica. "Se a fruta for apresentada no Brasil como abacate, o consumidor não vai querer consumi-la de maneira diferente da que ele está acostumado. Mas se o produto for difundido como avocado, será uma novidade e novas formas de consumo poderão ser exploradas", acredita. Além do formato mais redondo e da casca escura e dura, a principal diferença do avocado em relação ao abacate "manteiga" é o teor de óleo. "O hass tem de 20% a 30% de óleo, ante 3% a 5% de óleo do abacate manteiga, que tem mais água", diz.CARACTERÍSTICASAspecto e formatoEnquanto os abacates consumidos no Brasil - conhecidos como "abacate manteiga" - têm a casca verde, fina e mole e um formato mais alongado, o avocado tem a casca dura, coloração mais escura e tamanho menor.Teor de óleoO apelo funcional do abacate avocado é grande. Seu teor de óleo varia de 20% a 30%, ante um teor de óleo de, no máximo, 5% encontrado nos outros abacates. Como o azeite de oliva, o avocado é rico em gordura monoinsaturada. ConsistênciaO avocado possui muito menos água do que os outros abacates, o que torna sua polpa mais consistente e possibilita seu uso em saladas e diversos outros pratos salgados.

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