PUBLICIDADE

Abaixo o imperialismo... Brasileiro

Por Carlos Alberto Sardenberg
Atualização:

Foi a notícia da semana: americanos protestando contra o imperialismo brasileiro! A cerveja Budweiser, um símbolo americano, pode cair em mãos brasileiras. A bem da exatidão, em mãos belgo-brasileiras, pois é a InBev, multinacional resultante da fusão entre a brasileira AmBev e a belga Interbrew, que fez a oferta de compra da Anheuser-Busch, cervejaria que detém metade do mercado americano, especialmente com a célebre Budweiser. Mas a InBev está sob comando brasileiro. No conselho, o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Na direção executiva da multinacional, Carlos Brito e um seleto grupo de diretores brasileiros. Na cidade de Saint Louis, capital do Estado de Missouri, sede histórica da companhia americana, o negócio gerou uma onda de protestos contra a "invasão estrangeira". Já há dois sites na internet, www.SaveBudweiser.com e www.SaveAB.com, que recolhem assinaturas contra a venda, considerada "profundamente perturbadora" pelo governador de Missouri, Matt Blunt. A Budweiser é patriótica. Traz as cores da bandeira americana nas suas embalagens e as propagandas freqüentemente exibem soldados. A cervejaria é controlada há 150 anos pela família Busch, que, entretanto, detém hoje apenas 3,5% do capital. O maior investidor individual é Warren Buffet, com 5,5%. O presidente-executivo da companhia, August Busch IV, já disse que não pretende vendê-la. Mas pessoas familiarizadas com as finanças internacionais notam que Jorge Paulo Lemann, o líder do grupo brasileiro, é muito amigo de Buffet. A decisão final depende dos acionistas, não dos controladores. A InBev fez uma oferta inicial de US$ 65 por ação da Anheuser-Busch, a pagar em dinheiro, no que pode chegar a US$ 46 bilhões no total. Seria o terceiro maior negócio de aquisição de uma companhia americana por uma estrangeira. A imprensa internacional diz que o negócio faz todo o sentido. A InBev, a segunda maior cervejaria do mundo, quase não tem presença nos EUA. E a Anheuser-Busch não existe fora dos EUA. A fusão criaria a maior cervejaria do mundo. Analistas dizem que a InBev deve levar, mas precisará elevar um pouco sua oferta. O presidente da InBev, o brasileiro Carlos Brito, concedeu entrevista para dizer que manterá a marca americana, manterá a sede e prestigiará os diretores locais. Mas os locais dizem temer a invasão dos executivos brasileiros, que praticamente ocuparam a InBev na sua sede na Bélgica. Eis aí, os americanos reclamando do que suas companhias fazem pelo mundo afora. De maneira que ficamos assim: se eles melarem o negócio lá, a gente nacionaliza a Coca-Cola aqui. Obama repete Bill Clinton - Economia será o tema central da campanha de Barack Obama, informaram seus assessores. Escolha óbvia para um candidato de oposição, em campanha que se desenvolve em clima de forte desaceleração econômica. A taxa de desemprego subiu para 5,5%, um número muito alto para os padrões americanos. Além disso, há a inflação de alimentos - que afeta os mais pobres - e a inflação da gasolina, que pega todo mundo. O governo não é o responsável direto pela crise econômica - especialmente num país de economia aberta, em que as forças do mercado agem com muita liberdade -, mas a sensação de mal-estar leva o eleitor para a oposição. Por via das dúvidas, é melhor mudar - e mudança é o slogan de Obama. Em resumo, Obama está diante de uma grande oportunidade. Especialmente porque, segundo a maioria dos analistas, a economia americana continua em desaceleração por algum tempo e começa a se recuperar apenas no final deste ano, com sorte, ou no próximo. Em qualquer caso, não haverá tempo para o cidadão sentir a mudança ainda em novembro, data da eleição. Mas a situação deve melhorar claramente ao longo do mandato do novo presidente - e isso pelas forças normais da economia, bastando que o governo não faça besteira. Assim, Obama pode repetir Bill Clinton, eleito em 1992 exatamente na mesma situação econômica, contra o pai do atual Bush. A diferença é que, em 1992, Bush era candidato à reeleição e vinha de uma guerra extremamente bem-sucedida - rápida, com número mínimo de baixas americanas e uma clara vitória sobre Saddam Hussein, expulso do Kuwait. Mas pagou a culpa pela recessão. Agora, além da parada na economia, o presidente Bush traz no seu currículo uma guerra desastrosa. Por isso, o candidato republicano, John McCain, procura se distanciar do Bush atual e diz que tem saídas para a crise econômica. Mas, em qualquer lugar do mundo, é difícil ser candidato da situação e dizer que não tem nada com isso. Inflação e BCs - Os índices de inflação conhecidos na semana passada vieram entre ruins e péssimos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já vinha elevando os juros antes dessa escalada da inflação, numa ação que se poderia chamar de preventiva. Agora, já tem gente dizendo que o Copom bobeou e deveria ter começado a puxar os juros antes. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. O fato é que há uma inflação global e que o BC brasileiro, entre os países emergentes importantes, foi o primeiro a começar a agir. Lá fora, há elogios. Por aqui, o pessoal parece acreditar que o BC vai dar conta do serviço. Pelo menos é o que dizem as expectativas: uma inflação acima do centro da meta neste ano (4,5%), mas abaixo do teto da margem de tolerância (6,5%). Juros continuam subindo daqui até o final do ano. Em 2009, a inflação começa a desacelerar e os juros voltam a cair. Crescimento econômico desacelerando neste e no próximo ano, mas mantendo um ritmo razoável. A ver. *Carlos Alberto Sardenberg é jornalista. Site: www.sardenberg.com.br

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.