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Abandono da rede

Falta de construção de novos reservatórios de água afeta geração de energia

Por José Goldemberg
Atualização:

A origem dos problemas foi o abandono gradual, nas últimas décadas, da construção de reservatórios de água, que garantissem a produção de eletricidade nas usinas hidrelétricas em anos de seca. Entre as razões, a oposição dos ambientalistas, já que grandes reservatórios inundam áreas povoadas ou cobertas de florestas, criando problemas ambientais e sociais. 

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Isto pode ser verdade em países como a Índia, com densidade populacional elevada, mas não no Brasil. Mesmo quando os impactos são significativos, como é o caso da hidrelétrica de Belo Monte, deve-se comparar os custos ambientais e sociais decorrentes dos reservatórios com os benefícios – que em geral são maiores – para populações. 

As crises hídricas de 2001 e 2013 levaram ao uso de usinas térmicas mais poluentes e com eletricidade muito mais cara. A solução dos problemas de eletricidade passa pelo aproveitamento de outras formas de energia abundantes, como o bagaço de cana, que bem aproveitado poderia gerar tanta eletricidade quanto Itaipu. A energia eólica também, mas os problemas de interligação das maquinas às redes de transmissão teriam de ser resolvidos. Frequentemente parques eólicos ficam ociosos por falta de linhas de transmissão. 

Uma das razões pelas quais isto não ocorreu é o sistema de leilões adotado pelo governo para o aumento da produção da eletricidade em que todas as fontes de energia concorrem em condições iguais. Garantir um custo final mais baixo da eletricidade – objetivo dos leilões –se revelou fruto de uma visão demagógica e não técnica do problema. A “modicidade tarifária”, destinada a proteger os mais pobres, se revelou obstáculo aos empreendedores que concorriam com opções novas como energia eólica e biomassa. 

JOSÉ GOLDEMBERG É FISÍCO E EX-REITOR DA USP

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