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Economista e advogada

Opinião|Abre as asas sobre nós

Bolsonaro parece não perceber que, se eleito, será o presidente dos #EleNão também

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Atualização:

Nesta campanha, abusou-se do uso da palavra liberal. Ficou na moda como resposta ao desastre intervencionista dos anos recentes. Mas foi empregada de forma muito limitada, sempre se referindo a uma política econômica que privilegiasse a redução do Estado. No caso de Bolsonaro, sobram motivos para desconfiança na conversão do candidato na área econômica.

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Há um permanente choque de ideias entre seus assessores. De um lado, os economistas que defendem abertura comercial e uma retirada radical do Estado na economia. De outro, os militares que participam ativamente do programa de governo e que possuem um viés nacionalista e intervencionista. A nostalgia dos anos 70 é bem reveladora.

Bolsonaro diz que está com a mão na faixa. E vem se portando de acordo, a começar pela ausência em debates. E, a menos que as pesquisas errem ainda mais neste segundo turno, deverá ser o próximo presidente.

Será eleito sem que se saiba qual seu programa de governo. O que pensa e o que fará Jair Messias na área econômica é um mistério. Ainda assim, o mercado celebra a vitória de um candidato dito liberal.

Bolsonaro e liberal na mesma frase sempre me surpreende. Não orna. Ao longo de sua longa carreira como deputado votou sempre alinhado com o PT e contra todas as reformas liberais. Mas não é só pelo seu passado como parlamentar que eu estranho. É todo o entorno do candidato, a começar pelos próprios filhos. Seus eleitores e apoiadores defendem uma agenda extremamente conservadora.

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O tsunami Bolsonaro trouxe com ele para o Congresso e assembleias estaduais nomes que defendem uma pauta velha e retrógrada, como a do Juiz Witzel, favorito na disputa ao governo do Rio de Janeiro. Ninguém sabia quem era, mas bastou uma declaração no estilo “bandido bom, bandido morto” para que ele assumisse a liderança nas pesquisas.

Acontece que o liberalismo transcende a agenda econômica. A começar pela defesa da liberdade e a anarquia dos espíritos. Ser livre para ser quem quiser, pensar como quiser, se expressar, fazer escolhas sem a tutela e intervenção do Estado. Tolerância, pluralismo, inclusão social, amor à liberdade dos outros e respeito à diversidade são a marca definidora de um espírito liberal.

O capitão está ciente disso? Tudo sugere que não; dos comentários preconceituosos à ameaça de controlar a imprensa através de verbas oficiais. Na sua fala do último domingo, ressuscitou o velho “Ame-o ou Deixe-o”, marca dos anos de ditadura e de triste lembrança. Ainda não parece ter ficado claro para ele que, se eleito, será o presidente dos #EleNão também. E de todos os brasileiros.

De toda forma, nas democracias a limitação do poder do chefe do governo não depende de seu altruísmo. As instituições servem para isso, com pesos e contrapesos. A reação da sociedade e do próprio STF ao ataque antidemocrático de Eduardo Bolsonaro ao tribunal foi rápida e forte, mostrando que não serão tolerados arroubos autoritários. As ofensas à ministra Rosa Weber e ao TSE receberam a mesma resposta do Supremo. Cabos, soldados, coronéis, STF, presidente da República e todos nós devemos respeito e obediência à Constituição

O Congresso Nacional tem enorme responsabilidade na defesa das regras constitucionais. Muita gente celebrou o encerramento da carreira política de senadores como Sarney, Lobão e Lindbergh, entre outros. Na euforia, esqueceram que o Senado perdeu nomes como Ricardo Ferraço (ES) e a Câmara perdeu deputados como Betinho Gomes (PE) – dois parlamentares que nos últimos anos foram grandes defensores das reformas liberais. Farão falta numa casa atropelada por uma onda conservadora.

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Os novos que entraram não chegam a simbolizar uma renovação. A substituição da velha bancada foi liderada pelo conservador PSL, que, com o PT, formarão os dois maiores grupos da Câmara. Tudo indica que a polarização continuará intensa no Parlamento. Mas nem tudo é má notícia.

Movimentos de verdadeira renovação na forma de atuação política, nascidos dentro da sociedade civil, vêm se fortalecendo em contraste com a falta de oxigenação dos partidos tradicionais. O Livres, meu preferido e do qual faço parte, elegeu parlamentares (deputados federais e estaduais e um senador ) por diferentes partidos, que vieram se juntar a vereadores e um prefeito. Juntos, defenderão permanentemente o liberalismo na economia e nos costumes. Com eles, vai nascendo a bancada da Liberdade.

*ECONOMISTA E ADVOGADA

Opinião por Elena Landau
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