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Acordo com Argentina ficou mais difícil

Por Mauro Zanatta e Renata Veríssimo
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BRASÍLIA - O impasse nas negociações entre Brasil e Argentina para destravar o fluxo de comércio bilateral, sobretudo no setor automotivo, tem como principal razão a exigência de reciprocidade dos argentinos nas medidas sob avaliação pelo governo brasileiro. O governo de Cristina Kirchner não aceita medidas para beneficiar apenas as montadoras instaladas no Brasil. Quer a garantia dos mecanismos de financiamento às exportações de automóveis ao Brasil. Na avaliação dos vizinhos, as propostas do governo Dilma Rousseff beneficiam somente a venda de veículos produzidos no lado brasileiro. Em crise cambial, e com dificuldades para exportar seus produtos, os platinos querem "pegar uma carona" nas medidas de blindagem das transações bilaterais.O governo brasileiro propôs um mecanismo de financiamento às exportações brasileiras para o vizinho, mas o governo de Buenos Aires incorporou às negociações metas para a integração produtiva com o objetivo de beneficiar, principalmente, os fabricantes de autopeças argentinos. No Brasil, calcula-se que as montadoras deixaram de ganhar US$ 250 milhões no primeiro trimestre deste ano. Até o fim do ano, o "prejuízo" poderia passar de US$ 1 bilhão, informaram fontes graduadas ao Estado.Uma nova tentativa de fechar um acordo foi frustrada ontem. Em reunião com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Mauro Borges (Desenvolvimento), os ministros argentinos da Economia, Axel Kicillof, e da Indústria, Débora Giorgi, debateram alternativas e soluções por várias horas em Brasília. Representantes da indústria automobilística dos dois países também participaram. A reunião não foi conclusiva e novo encontro foi agendado para 6 e 7 de maio, em Brasília. O Brasil esperava uma resposta à proposta apresentada na semana passada de usar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para viabilizar as linhas de crédito a ser ofertadas por bancos privados no Brasil para financiar o importador argentino nas compras brasileiras.Para pôr em prática as operações, as instituições financeiras querem garantias de que receberão de volta o financiamento. A ideia do governo brasileiro é fazer as operações dentro do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), um sistema de compensação de pagamentos em vigor por acordo dos dois bancos centrais. Em caso de inadimplência do país vizinho, o FGE seria o garantidor final. Na reunião de ontem, foi criado um grupo de trabalho para chegar a uma solução na próxima semana. Os dois países também darão início a um cronograma de negociação para a renovação do acordo automotivo bilateral.

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