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Acordo de Doha depende de Obama

Amorim, que havia feito crítica ao presidente eleito dos EUA, atenua acusações, mas pede sinal para salvar rodada

Por Jamil Chade
Atualização:

A conclusão de um acordo comercial agora ficará nas mãos do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, e o chanceler Celso Amorim espera que a próxima administração dê um sinal de compromisso de que não vai elevar as distorções no comércio agrícola. O presidente George W. Bush conclui seus oito anos de mandato sem um acordo. "Não esperamos mais uma conclusão durante essa administração", afirmou Peter Allgeier, embaixador dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Amorim havia alertado na quinta-feira de que o mundo precisava de um sinal de Obama para que houvesse um acordo. Ele chegou a insinuar que Obama não estaria demonstrando sua liderança. Para Amorim, o colapso das negociações tem "um só responsável": os Estados Unidos. Mas ele tentou atenuar suas declarações em relação a Obama. "A crise foi criada na economia americana. São eles que precisam agora mostrar liderança. Precisamos de um sinal, pois há países que nem sequer sabem o que negociar nesse clima." O chanceler alertou que, nos últimos dias, congressistas do Partido Democrata enviaram cartas a Bush pedindo que o acordo não fosse assinado. "Precisávamos de um sinal (de Obama) de que a visão desses congressistas não era a do próximo governo", explicou. Para ele, esse sinal não veio. "Não temos nem mesmo uma vaga idéia de qual seria o sinal", lamentou Amorim. O diretor da OMC, Pascal Lamy, disse que vai pensar na próxima administração americana apenas no próximo ano. Para Catherine Ashton, comissária de Comércio da Europa, a missão de muitos países deve ser a de se "engajar com a próxima administração americana para ver quando uma reunião ministerial poderá ser chamada em 2009". O problema é que o Brasil teme que Barack Obama seja mais protecionista que Bush. Durante sua campanha eleitoral, Obama prometeu rever todos os acordos assinados pelos republicanos e ainda tratar de questões trabalhistas e ambientais em seus entendimentos com outros países. Para o Brasil, isso seria inaceitável e, desde o governo de Bill Clinton, nos anos 90, o Itamaraty vem se opondo a qualquer negociação que inclua questões ambientais e trabalhistas com o comércio. PROTECIONISMO Para o chanceler, seria positivo receber uma sinalização de Obama congelando os gastos com os subsídios agrícolas. Isso, em sua avaliação, seria um gesto que seria bem recebido em todo o mundo e impediria governos de tomarem medidas protecionistas. "Não queremos o protecionismo e queremos combater isso. Por isso queríamos uma conclusão da Rodada Doha". Para Amorim, um "estímulo" dos países ricos seria ideal para frear tentações em todo o mundo. "Espero que outros governos declarem que não vão mais elevar subsídios", disse o ministro. Mas Amorim admitiu que não sabe qual será o comportamento de Obama em relação a uma possível elevação nos subsídios agrícolas a partir de 2009. "Não sei que estímulo ele terá (de fazer cortes). É algo que desconhecemos." Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, a conclusão de um acordo exigirá "vontade política" e um entendimento entre os governos não pode mais ficar dependente de "vontades nacionalistas". "Estamos atravessando múltiplas crises. Não podemos ficar falando em questões nacionais. Todos os países têm desafios. Mas precisamos superar essa fase", disse Ban Ki Moon. "Estamos vivendo em um tempo de temores e incertezas", disse, respondendo a uma pergunta do Estado. "Precisamos fortalecer o multilateralismo e encorajar os líderes mundiais a lidar com a crise. Além de tudo, os países emergentes querem um multilateralismo mais inclusivo. Um acordo comercial seria um instrumento importante para superar a crise e produzir benefícios para os países emergentes", concluiu o secretário-geral da ONU.

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