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Acordo de Doha seria um marco histórico para o Brasil

Eventual conclusão da rodada daria ao País o título de potência diplomática emergente

Por RAYMOND COLITT
Atualização:

Entre os mais de 30 ministros que vão se reunir na semana que vem em Genebra para discutir a Rodada Doha de comércio global, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, está particularmente interessado num resultado positivo. Ele já gastou muito capital político tentando unir os países em desenvolvimento em torno de uma posição comum, mas internamente enfrenta um lobby que o empurra na direção contrária na mesa de negociações. Uma eventual conclusão da Rodada de Doha, lançada em 2001, poderia consolidar as credenciais do Brasil como líder dos países em desenvolvimento e uma potência diplomática emergente. Grande parte do crédito por isso iria para Amorim. Mas, caso as negociações fracassem, os riscos de uma política comercial voltada quase exclusivamente para Doha ficariam expostos, possivelmente diminuindo o cacife do Brasil no mundo. "Há muita coisa em jogo para o Brasil. Seria o único grande acordo comercial que teríamos para mostrar em vários anos," disse Mário Marconini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Sendo um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, o Brasil teria muito a ganhar com um acordo que reduzisse tarifas e subsídios agrícolas. Mas diplomatas brasileiros dizem que os países ricos estão oferecendo menos que o esperado, o que complica as perspectiva de acordo. "Se os países ricos fizerem uma grande contribuição, podemos ficar otimistas", disse à Reuters o negociador-chefe brasileiro, Roberto Azevedo, referindo-se à reunião em Genebra. O Brasil tem uma longa lista de exigências, como a redução geral dos subsídios agrícolas e de determinadas commodities, e a imposição de um teto para tarifas agrícolas. "Não sei por onde começar, há muito por melhorar", disse Azevedo. Críticos dizem que o Brasil recuou de algumas de suas propostas originais devido ao lobby de aliados internacionais e de sua própria indústria, que vê com preocupação a redução das tarifas de importação para produtos manufaturados, que atualmente é da ordem de 10%. "Queremos uma proposta mais ambiciosa, com menos protecionismo," disse Gilman Viana Rodrigues, presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "O setor mais competitivo do Brasil não deveria sofrer porque os menos competitivos resistem a mais abertura comercial." Para agradar aliados como a Índia, interessada em proteger seus milhões de pequenos agricultores, o governo Lula abrandou algumas das suas propostas de abertura agrícola, segundo especialistas. "Baixamos o nível de exigência. O Brasil está negociando não para gerar mais comércio, mas para exibir o acordo de Doha como um troféu político", disse José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil. "Esta solidariedade com as nações em desenvolvimento é uma política arriscada."

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