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Acordo fica mais difícil na Argentina

Pecuaristas acusam governo de não querer resolver a crise e governo os acusa de tentar impor condições

Por Ariel Palacios
Atualização:

A crise entre o governo da presidente Cristina Kirchner e os pecuaristas se agravou ontem, ao completar 76 dias, após o governo cancelar uma reunião com as lideranças das quatro maiores associações rurais alegando que não havia ambiente para o diálogo. Para os produtores, a presidente busca "pretextos para adiar a solução". Ao longo do dia, surgiram rumores de que o governo anunciaria medidas para apaziguar os ânimos e acabar com os protestos decorrentes do aumento de impostos. Essas medidas previam um novo sistema de retenções (impostos) móveis sobre as exportações agrícolas. O teto de 95% de impostos aplicado desde o dia 11 de março passaria a ser de 50%. Mas os ruralistas querem o teto anterior, de 35%. Além disso, indicaram que rejeitam qualquer medida unilateral. Para complicar, diversos setores agropecuários ameaçavam retomar os protestos, incluindo piquetes nas estradas. A crise começou em março, com a decisão do governo de aumentar os impostos sobre as exportações agrícolas e criar um sistema de impostos móveis - de acordo com o preço internacional do produto -, elevando a sua arrecadação e reduzindo o lucro dos produtores. Os agricultores exigem também que Cristina suspenda as restrições para a exportação de carne bovina e de trigo - nesse caso, afetando muito o Brasil, grande importador do cereal argentino. Ontem, o chefe do Gabinete de Ministros, Alberto Fernández, responsabilizou os ruralistas pela ruptura do diálogo. "Isso aí não é dialogar; eles querem impor condições. Cada vez que sento à mesa para negociar, fazem ameaças", disse. Fernández acusou os agricultores de terem agido como "opositores" na manifestação de domingo, na cidade de Rosario, onde reuniram 250 mil pessoas - a maior desde 1983. Nos discursos, os ruralistas afirmaram que "os Kirchners são o maior obstáculo para o desenvolvimento econômico do país". O presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens, lamentou a posição do governo. "A possibilidade de chegar a um acordo está cada vez mais difícil", disse. No meio do clima tenso, o ex-presidente Néstor Kirchner - esposo da presidente Cristina - convocou para esta terça-feira uma reunião do Conselho do Partido Justicialista (Peronista), do qual é presidente, para avaliar o cenário de crise com os ruralistas. Os analistas afirmam que Kirchner pretende cerrar as fileiras das lideranças peronistas para enfrentar os produtores agrícolas.

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