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Acordo sobre como gerir a web é urgente, diz Icann

Em Davos, presidente da empresa que controla a rede mundial de computadores alerta para risco de fragmentação política da internet

Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

O PRESIDENTE DA ICANN, FADI CHEHADé

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A internet vai se fragmentar se não houver um acordo sobre como administrar a web nos próximos anos. O alerta é do libanês Fadi Chehadé, presidente da Icann, empresa que hoje controla a rede mundial de computadores. No centro de uma polêmica mundial, a companhia é alvo de ataques de todo o mundo. Afinal, é controlada pelo governo americano, o que da à Casa Branca poder especial sobre a Internet no mundo.

Mas as revelações do analista de sistemas Edward Snowden mudaram o rumo da gestão da web. Para conter a ira internacional causada pela denúncia de que chefes de estado e milhares de pessoas estavam sendo vigiadas pelo governo americano, Washington aceitou acabar com seu controle sobre a Icann, num gesto de "paz".

A entidade deu início a um processo de reforma para se transformar em uma organização de fato multinacional. A expectativa é de que o processo seja atingido no fim de 2015. Mas o governo americano já avisou: se no lugar da Icann o que o mundo criar for uma "ONU da internet", não aceitará ceder seu poder e continuará a dominar a rede.

Ontem, em Genebra, o Fórum Econômico Mundial iniciou um processo de consultas para, justamente, tentar desenhar o futuro da gestão da internet. Trata-se do primeiro passo para tentar implementar o que uma conferência internacional realizada, em maio, em São Paulo, estabeleceu: a necessidade de se encontrar uma arquitetura para administrar a rede.

O texto final da conferência NETmundial definiu, entre outras coisas, que os mesmos direitos humanos defendidos no mundo offline devem ser preservados no mundo online. O modelo de governança deve ser o multissetorial e continuamente aprimorado. O texto recomenda que o processo de transição da governança da Icann aconteça de forma gradual até setembro de 2015.

Davos.

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O processo que se iniciou no Fórum Econômico Mundial criou um sério mal-estar. Entre mais de 70 especialistas, representantes de empresas e do governo americano, apenas dois chineses foram convidados e ninguém do mundo árabe, restante da Ásia ou africanos.

A iniciativa de Davos estava sendo mantida em sigilo. Mas o vazamento de documentos revelando as intenções da entidade causou desconforto internacional. Por isso, o Fórum decidiu convidar novos participantes, entre eles o Brasil, representado pelo secretário de tecnologia da informação do governo, Virgílio Almeida.

Gestão.

Apesar de gerar críticas na sociedade civil brasileira, o Palácio do Planalto decidiu participar do evento para continuar a influenciar no processo e garantir que sua visão seja considerada. "Queremos um processo aberto, transparente", declarou Almeida. "O que há como consenso é que o modelo de gestão da web terá de ser compartilhado, como temos no Brasil", disse. "A internet é uma construção coletiva e esse é o começo do processo", indicou o brasileiro.

Tanto a Icann quanto Davos e as multinacionais comemoraram o fato de que, nos últimos meses, Brasília se distanciou de posições mantidas pela China, Rússia e outros países emergentes, que defendem um controle sobre a web vindo quase que exclusivamente de Estados.

Após o encontro, Chehadé falou ao

Estado

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e não deixou de elogiar o Brasil. "O País está colaborando muito."

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