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Acordos mantêm ganho real dos salários

Porcentual cai, mas sindicatos têm conseguido negociar reajustes

Por Marcelo Rehder
Atualização:

Categorias profissionais com data-base para renovação da convenção coletiva de trabalho no primeiro semestre têm conseguido negociar acordos que garantem reposição da inflação e aumento real de salário, apesar da crise. O que mudou foi o porcentual dos ganhos: em vez de se concentrarem na faixa entre 2% e 3% acima da inflação, têm ficado entre 0,5% e 1%. Sob os efeitos da crise, as negociações ficaram mais difíceis. Muitas empresas começam a negociar oferecendo reajuste abaixo da inflação, enquanto sindicalistas reivindicam aumentos de dois dígitos. Um exemplo é o dos 25 mil sapateiros de Franca, no interior paulista, que pediam 16,75%. Com data-base em 1º de fevereiro, os trabalhadores só fecharam acordo em 30 de abril. Eles aceitaram 7% (ganho real de 0,5%), a ser aplicado em duas etapas: 6,5% retroativos a fevereiro, e 0,5% a partir de julho. "Reivindicamos o que era necessário e fechamos o acordo com aquilo que foi possível", diz Paulo Afonso Ribeiro, presidente do sindicato dos calçadistas. Em setores menos afetados pela crise, as negociações têm favorecido ganhos salariais. Na indústria de alimentação do setor de doces e conservas, os salários foram corrigidos em 7,5% - aumento de 1,18% além da inflação acumulada desde o reajuste do ano passado. O acordo beneficiou 25 mil trabalhadores no Estado de São Paulo, com data-base em 1º de março. "Esse resultado serve para nortear outras negociações salariais em outros segmentos que teremos este ano", diz Neusa Barbosa, diretora da Federação dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação do Estado de São Paulo. No segmento de bebidas, o aumento real foi de 0,7%, o que, somado à inflação de 6,2%, medida pela variação do INPC de 12 meses, corresponde a um reajuste de 7%. Também com data-base em 1º de março, a categoria reúne 12 mil trabalhadores no Estado. "Os resultados das negociações estão muito parecidos com os do ano passado, quando quase 90% das categorias conseguiram reajustes iguais ou superiores à inflação", diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ganz Lúcio avalia que isso se deve em grande medida à inflação em níveis considerados baixos para o padrão brasileiro. "Com inflação de 4,5% a 5% ao ano, dar mais 1% ou 2% nos salários não faz tanta diferença." Além disso, segundo ele, a maioria das empresas fez o ajuste de custos por meio de demissões. O professor de Relações do Trabalho e consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Pastore, vê nesses acordos mais um indicador de que a crise não é generalizada. Segundo ele, os resultados das negociações este ano serão diferenciados não apenas por setores, mas também pelas regiões. "A crise passou longe do Norte, Nordeste e Centro-Oeste", diz Pastore. "São regiões preservadas, com um ou outro ponto de crise, onde as obras públicas têm papel importante." Na capital paulista, foi preciso uma greve de advertência de 24 horas para que as construtoras fizessem uma proposta que rompeu o impasse nas negociações. Os trabalhadores queriam 5,5% além da inflação, mas aceitaram 1,2% de aumento real para salários de até R$ 2,5 mil, o que beneficia 90% da categoria. "As construtoras exploraram uma frase infeliz do presidente Lula, de que não era hora de pedir aumento, e sim de ajudar as empresas a manter o emprego", diz Antonio Ramalho, presidente do sindicato, que representa 300 mil operários. Os trabalhadores da indústria farmacêutica no Estado começaram pedindo 7% de aumento real. Fecharam acordo com 0,08%, mais abono de R$ 500, a ser pago em agosto.

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