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Acusado de desfalque no Noroeste rompe silêncio e procura advogado

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de mais de quatro meses de silêncio, o principal acusado do desfalque de US$ 242 milhões contra o banco Noroeste, Nélson Sakagushi, que se encontra preso na Suíça, voltou a falar na madrugada de ontem com o advogado no Brasil, Alfredo das Neves Filho, em busca de informações sobre um misterioso fax que teria sido enviado para ele por autoridades da Nigéria. O fax, um suposto documento oficial do governo nigeriano, afirma que as autoridades daquele país haviam decidido indenizar Sakagushi, por causa de um incidente ocorrido com ele, há dois anos, em Lagos, capital da Nigéria. Na época, Sakagushi afirmou que viajara para a Nigéria em busca de provas que o inocentariam da acusação do desfalque. Mas, depois de alguns dias no país, foi detido e expulso pela autoridades que sequer apresentaram uma justificativa formal para aquela atitude. "Há cerca de dois meses, recebi o fax com o anúncio da indenização, e desde então venho tentando confirmar a sua origem sem resultados", informou hoje o advogado Neves Filho. "O fax pede o número da conta bancária de Sakagushi para depositar o valor da indenização, que atinge alguns milhares de dólares." Mas o advogado não conseguiu confirmar a origem e a veracidade do fax. "Talvez tenha sido apenas um ardil, utilizado por alguém, para tentar localizar supostas contas de Sakagushi em bancos estrangeiros", afirma Neves Filho. "E foi isso que eu comuniquei a ele, na madrugada de ontem, pelo telefone." Desde que foi acusado, Sakagushi insiste que nem ele ou qualquer familiar dele têm contas no exterior. Ele chegou a assinar um documento formal autorizando as autoridades suíças a confiscarem qualquer importância que encontrarem em seu nome em bancos fora do Brasil. Ontem, no telefonema ao advogado, ele afirmou que já depôs várias vezes para as autoridades suíças, acompanhado por um advogado daquele país. As autoridades suíças também já ouviram os ex-controladores do banco e deverão expedir, nos próximos dias, uma carta rogatória para a Justiça brasileira, pedindo documentos das investigações realizadas pela Polícia Federal e pela Justiça Federal no Brasil. Sakagushi foi preso nos Estados Unidos, em junho, e se entregou em seguida às autoridades suíças, para onde foi deportado duas semanas depois. Desde então, seu advogado no Brasil não conseguiu mais falar com ele. O silêncio foi rompido só nesta segunda-feira. Ele é investigado na Suíça por lavagem de dinheiro e fraude contra o sistema financeiro. O desfalque contra o Noroeste foi descoberto em 1998, quando o banco foi vendido para o Santander. De acordo com os ex-controladores do banco, das famílias Simonsen e Cochrame, Sakagushi, então diretor da área internacional do Noroeste, teria sido o mentor da operação, em conluio com quadrilha de nigerianos especializada em lavagem de dinheiro. Grande parte do dinheiro, desviado da agência do Noroeste nas Ilhas Cayman, passou por bancos suíços antes de ser pulverizado por instituições bancárias de vários países do mundo. Sakagushi reconhece que realizou as operações de desvio, mas afirma que as fez por ordem dos ex-controladores do banco. Alega, em sua defesa, que só os ex-controladores tinham acesso aos códigos que permitiam realizar transferências de valores tão vultuosos como as que foram realizadas.

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