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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Adeus, cartão de crédito

Até 2020, nada menos do que 726 bilhões de pagamentos serão feitos digitalmente e instantaneamente no mundo; no Brasil o Banco Central já estuda regulamentação

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

O dinheiro que você leva na carteira e até mesmo os cartões de plástico estão com os dias contados. Darão espaço às transferências de moeda puramente virtuais, seja por computador, por aplicativo de smartphone ou por dispositivos wearables, como relógios ou pulseiras com tecnologia embarcada.

Ao menos é isso que já está no radar de pesquisadores e consultorias especializadas em tecnologia e no sistema financeiro. Até 2020, nada menos do que 726 bilhões de pagamentos serão feitos digitalmente e instantaneamente no mundo, calculam a consultoria Capgemini e o banco BNP Paribas.

Em 2016, os pagamentos instantâneos na China movimentaram US$ 5 trilhões 

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De acordo com a definição do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), os pagamentos instantâneos são transferências eletrônicas em que a transmissão da mensagem de pagamento e a disponibilidade de fundos ao beneficiário final ocorrem em tempo real por meio de um serviço disponível  24 horas nos sete dias da semana.

Países asiáticos e escandinavos correm à frente nessas modalidades. Nesse pelotão de dianteira estão até mesmo alguns países africanos, como o Quênia, onde os aplicativos já movimentam o equivalente a 31% do PIB.

Na China, dinheiro convencional na hora de pagar o supermercado virou raridade. O consumidor aponta o celular para um código, do tipo QR Code, que identifica a carteira digital do varejista e confirma o pagamento. Até mesmo pedintes já têm seu próprio código para receber esmolas. Os chineses passaram logo do papel-moeda aos pagamentos por celular, sem usar cartões de débito ou de crédito. Os números são de 2016, mas dão ideia da amplitude da novidade: US$ 5 trilhões foram movimentados em pagamentos móveis.

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Por aqui, a maioria dos pagamentos – 52% do total– ainda é feita com dinheiro vivo. Mas há sinais de que isso mudará rapidamente. O brasileiro já se familiarizou com o uso da tecnologia. Dados da Febraban, a federação dos bancos, mostram que o uso de aplicativos de bancos, o chamado mobile banking, para pagamentos, transferências ou verificação de saldos e faturas do cartão cresceu 70% entre 2016 e 2017.

O Banco Central do Brasil criou um grupo de trabalho encarregado de preparar essas mudanças. Quando forem adotadas, o volume de papel-moeda em circulação cairá drasticamente. Para Ricardo Anhesini, sócio-líder de Serviços Financeiros da consultoria KPMG, o Brasil tem potencial para se tornar um dos ‘front-runners’ na corrida dos novos meios de pagamento.

Até mesmo as práticas adquiridas pelos brasileiros nos tempos da forte inflação, do overnight e das aplicações de liquidez diária, contam a favor da rápida substituição dos já septuagenários cartões de débito e de crédito. Mas há problemas de infraestrutura a superar, como o baixo acesso à internet nos rincões do País. Além disso, falta mão de obra qualificada para desenvolver soluções de pagamento e sobra concentração nas bandeiras de cartões, como Visa, Mastercard e Elo, que acabarão por ser deslocadas pelas novas formas de pagamento e, por isso, tendem a trabalhar contra a adoção dessas novidades.

Percival Jatobá, que coordena o Comitê de Transformação Digital da associação dos cartões de crédito (Abecs) e está à frente da Inovação da Visa, argumenta, no entanto, que as novidades criam boas oportunidades às operadoras de pagamento.

O Banco Central prevê para novembro a apresentação do modelo de regulamentação dos pagamentos eletrônicos no Brasil. A diretora do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio) Celina Bottino adverte que o excesso de regulamentação pode impedir ou retardar o desenvolvimento desse sistema, bem como impor limites à iniciativa de empresas menores, como as fintechs.

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O Banco Central, por sua vez, afirma que o principal fator de dificuldade é o desinteresse da indústria em desenvolver soluções que contestem os arranjos de pagamento já existentes.

Obstáculos sempre estão aí, para qualquer coisa. O fato é que, com eles ou sem eles, o futuro é esse. É o ocaso do papel-moeda e dos cartões e sua substituição por instrumentos digitais. 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Raquel Brandão
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