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Repórter especial de economia em Brasília

Tentar restabelecer o pagamento de bônus a magistrados e procuradores é cinismo político

Fomos obrigados a ouvir do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que não há nenhum privilégio em relação à carreira de juiz ou promotor, e que esses profissionais enfrentam 'trabalhos infindáveis' em algumas comarcas e júris que duram dias

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

A arrecadação em alta do governo na esteira da escalada da inflação foi o gatilho que acionou uma nova onda de projetos no Congresso para aumento de gastos. Boa parte deles de forma permanente.

Enquanto o governo lança mão de uma tesourada indiscriminada e arriscada de impostos (sem volta) que já soma R$ 50 bilhões de desonerações, projetos que pressionam os gastos avançam a toque de caixa no Congresso. Alguns deles já foram vetados pelo presidente Bolsonaro, mas os vetos acabaram derrubados.

É escandalosa a tentativa do Senado de ressuscitar uma PEC de 2013 que restabelece o pagamento de adicional de salários a cada cinco anos para magistrados e procuradores Foto: André Dusek/Estadão

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Só puro cinismo político pode explicar a escandalosa tentativa do Senado de ressuscitar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de 2013, que restabelece o pagamento de adicional de salários a cada cinco anos para magistrados e procuradores com digital do governo Bolsonaro, como revelou o Estadão.

Fomos obrigados a ouvir do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que não há nenhum privilégio em relação à carreira de juiz ou promotor, e que esses profissionais enfrentam “trabalhos infindáveis” em algumas comarcas e júris que duram dias.

É tapa na cara de milhões de brasileiros que não conseguem nem formalizar o seu trabalho, sem falar os que não têm emprego. Sem cumprir as suas promessas reformistas apresentadas durante a campanha à presidência do Senado, Pacheco passa vergonha. Na Câmara, não é diferente.  Pressionado por seus pares, foi o presidente do Senado que rebateu há poucos dias os ataques do ex-presidente Lula, para quem este Congresso “é talvez o pior que já tivemos na história do Brasil”. O carimbo está dado e vai se consolidando.

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Pesquisador do Insper, o detalhista Marcos Mendes fez as contas e projetou uma pressão adicional de mais R$ 31 bilhões nas despesas do governo com 10 projetos ou aprovados (esperando sanção) ou que estão em fase de tramitação. Independentemente de uma análise de mérito ou não dessas medidas, a conta está subindo. Tem alguém olhando para isso? 

Enquanto isso, o governo coloca o pé no acelerador dos estímulos ao crescimento, o Banco Central põe o pé no freio com a subida nos juros para segurar a inflação. A equipe econômica diz que os números das contas públicas “não mentem” e mostram uma melhora consistente.

O mercado surfa nos dados mais positivos de curto prazo com a arrecadação bombando, o dólar cai, e o Brasil vira o novo queridinho dos investidores estrangeiros. Pudera com esses juros na altura, caminhando para 13%, o paraíso é aqui. Os acusados de alarmistas de hoje serão os sensatos de amanhã. 

* É REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

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