07 de abril de 2022 | 04h00
Estacionado nas pesquisas de voto – em um primeiro lugar cada vez menos distante –, o ex-presidente Lula precisou se mexer nos últimos dias para angariar apoio à sua candidatura.
Um dos primeiros sinais em busca de diminuir as resistências a seu nome entre o empresariado e o setor financeiro foi de que não haverá uma tentativa de ruptura para desfazer a autonomia do Banco Central.
Essa é a primeira leitura da fala da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que nesta semana, em encontro organizado pelo empresário João Camargo (Esfera Brasil), disse que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, continuará no cargo caso Lula seja eleito.
A interpretação dos participantes do encontro é de que foi uma espécie de “primeira nomeação” de uma equipe econômica de Lula.
Embora Campos Neto tenha um mandato que lhe assegura permanecer na cadeira da presidência até 2024, o sinal dado pela campanha de Lula foi considerado importante pelos participantes porque pavimenta a busca do diálogo com o presidente do BC.
Economista liberal, Campos Neto passou a integrar o governo logo depois da vitória de Bolsonaro em 2018, e tem sido citado como provável ministro da Economia se o presidente conseguir a reeleição.
A autonomia do BC, aprovada pelo Congresso durante o governo Bolsonaro, é um ponto sensível para o setor financeiro. Um posicionamento mais sólido da campanha estava sendo cobrado. A desconfiança existe porque o PT e o próprio Lula já se posicionaram contrários.
A campanha do petista parece disposta a dar mais sinais aos empresários e ao mercado financeiro, embora ainda haja bastante resistência ao seu nome entre o setor produtivo, que cobra mais sinais de que não haverá rupturas e nem “cavalo de pau” na política econômica.
Como mostrou reportagem do Estadão de domingo, os empresários que têm mantido diálogo com Lula ficaram de apresentar propostas. Uma das preocupações é com a subida mais forte de juros. O economista Gabriel Galípolo, sócio da consultoria com o mesmo nome e ex-presidente do Banco Fator, apontou os riscos para o planejamento dos negócios com a mudança de patamar de juros.
Galípolo acompanhou Gleisi no jantar, e foi apresentado como um nome jovem da campanha. Ele tem colocado que existe uma percepção de projetos, de saídas, que são mais amigáveis à agenda de um governo do PT do que era antes.
Muitos dos pontos apresentados agora estão distantes do que pensam os economistas do “PT raiz”.
* REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA
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