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Repórter especial de economia em Brasília

Votação da PEC dos precatórios escancara como modelo do 'toma lá, dá cá' está se sofisticando

Maioria dos deputados que apertaram a tecla do sim já era habitué das emendas de relator

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

Quinze milhões de reais. Esse foi o preço acertado para a compra de voto para aprovação da PEC dos precatórios, que é também a PEC do calote, PEC fura-teto, PEC da reeleição e a PEC do Auxílio Centrão. Uma proeza mesmo para os padrões atuais da Câmara.

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Um cruzamento básico do quadro de votação da PEC com a planilha do Ministério do Desenvolvimento Regional de controle dos repasses das emendas de relator (RP9) revela que a maioria dos deputados que apertaram a tecla do sim na madrugada de quinta-feira já era habitué das emendas de relator.

Metade dos votos favoráveis à PEC do Podemos, PSDB, PSB e PDT também partiu de deputados que já estavam listados nessa planilha como beneficiários dessas emendas, como revelou o Estadão

Plenário da Câmara dos Deputados Foto: Cleia Viana/ Agência Câmara

De lá para cá, o que aumentou foi o vício parlamentar por essas emendas, que se transformaram numa droga entorpecente, em que a ameaça de corte garante também votos.

A votação da PEC deixou o “orçamento secreto” escancarado para a sociedade desse modelo do toma lá, dá cá, que está se sofisticando.

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Já não há mais negacionismo da sua existência. Fila de deputados na porta da assessoria da Presidência da Câmara se formou abertamente para a negociação das emendas. E, sem pudores, os valores das negociações foram falados em reuniões com mais de 20 parlamentares.

Esse relato publicado na reportagem de sexta-feira do Estadão mostra o quadro estarrecedor. “Colegas nossos de bancada comentaram que era esse valor, de R$ 15 milhões (para quem votasse a favor da PEC)”, afirmou o deputado Celso Maldaner (MDB-SC), que votou contra e disse não ter recebido nada.

É a casa da mãe joana, o lugar onde vale tudo e predomina a balbúrdia. A repercussão negativa dessa votação não tem precedente recente em se tratando de assunto econômico tão árido como os incluídos na PEC. Viralizou. A imagem da Câmara está destruída por completo. 

Quem já percebeu o risco de seguir adiante com esse modelo está disposto a enfrentar a guerra por mudanças nas emendas de relator que começa a ser travada na próxima semana na Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Entre os que votaram contra e mesmo entre os que garantiram a aprovação da PEC, há um desconforto com as ameaças de retaliação disparadas pelas lideranças. É a percepção de que a falta de transparência é grave, mas pior ainda é deixar o controle desses recursos bilionários nas mãos de poucos caciques de partidos, dos presidentes da Câmara e Senado e do relator do Orçamento. É preciso coragem.

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*REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

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