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Africanos alertam sobre efeitos de subsídios americanos

"Extremistas islâmicos vão aumentar na África se pobreza continuar nos atuais níveis", afirmou o ministro do Comércio do Benin, Moudjaidou Issfou Soumanou

Por Agencia Estado
Atualização:

Os subsídios americanos aos agricultores nos Estados Unidos não apenas ajudam a manter a alta renda dos fazendeiros americanos, mas "semeiam um terreno fértil aos extremistas islâmicos na África". Esse é o alerta do governo do Benin que, falando em nome de mais de 30 países africanos nesta sexta-feira na Organização Mundial do Comércio (OMC), advertiu para a pobreza gerada pelos subsídios americanos na região. "Os extremistas islâmicos vão aumentar na África se a pobreza continuar nos atuais níveis. Para muitos agricultores, porém, apenas o fim dos subsídios nos Estados Unidos ao setor do algodão é o que pode dar uma maior possibilidade para que as exportações africanas tenham maior competitividade e que a renda dos produtores sejam elevadas. É nisso também que o governo americano deve pensar quando discutir os níveis de ajuda a seus produtores", afirmou o ministro do Comércio do Benin, Moudjaidou Issfou Soumanou. Em sua avaliação, quanto maior a pobreza em uma região e a falta de perspectivas, maior a facilidade para que os extremistas recrutem aliados para suas causas. A avaliação dos países africanos é de que a nova lei agrícola americana que regulamentará os subsídios entre 2008 e 2012, conhecida como Farm Bill, irá no sentido contrário do que pedem os produtores de algodão nos países em desenvolvimento. "Por nossas contas preliminares, a Farm Bill representará um aumento de 65% no nível de subsídios dos Estados Unidos no setor do algodão. Isso é contra-produtivo", disse o ministro do Benin. Segundo os africanos, o valor da produção de alguns países da região sofreu uma queda de 30% nos últimos quatro anos. A causa seria o alto volume de subsídios dados aos produtores americanos e que deprimem os preços internacionais. O Brasil chegou a vencer um processo na OMC contra os americanos, mas agora luta para que a condenação seja aplicada. Impacto sobre a economia O problema é que, para certos países africanos, uma demora na retirada dos subsídios tem impacto direto em suas economias. Países como Mali, Chade e Burkina Faso, além do Benin, depende do setor do algodão para mais de 50% de suas exportações. Outros ainda, como Angola e Nigéria, também defendem o fim dos subsídios americanos como forma de elevar a renda dos fazendeiros. Já o diretor da OMC, Pascal Lamy, prefere apoiar a nova lei agrícola americana. "A Farm Bill vai reduzir o nível de subsídios se o Congresso aprová-la como está", disse. Para que entre em vigor, a proposta de lei feita pela Casa Branca agora deverá ser debatida pelos deputados e senadores, que ainda podem modificá-la. Ele lembra que nem todos concordam com a tese de que os subsídios são os responsáveis pelos preços internacionais. "Há quem veja a realidade de outra forma", disse. Para os africanos, essa tese é uma "manipulação de dados". Compensação Tanto os africanos como o Brasil defendem a criação de algum mecanismo internacional que dê certas garantias financeiras aos produtores de algodão da África. A OMC já trata do assunto com o Banco Mundial e com o Fundo Monetário Internacional. Mas o próprio Banco Mundial já declarou que é contrário à idéia.

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