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Agronegócio brasileiro dribla gargalos

Setor usa de tecnologia de ponta em todas as áreas do processo produtivo, ganhando competitividade no cenário internacional

Foto do author Anna Carolina Papp
Por Anna Carolina Papp
Atualização:

Se a logística brasileira anda a passos lentos, com estrutura deficitária em portos e estradas, o campo caminha num ritmo completamente diferente. Com injeção de tecnologia em todas as áreas do processo produtivo - da semente ao monitoramento da safra -, o agronegócio brasileiro vem conseguindo driblar os gargalos de infraestrutura e ganhar competitividade no cenário internacional. Só nos últimos dez anos, o volume de exportações agropecuárias cresceu 70%. No ano passado, bateram recorde pelo segundo ano seguido, ultrapassando US$ 101 bilhões em receita. A produção de grãos, que nesta safra deve passar de 195 milhões de toneladas, cresceu 60%. Se, para suprir a demanda internacional, a meta para 2020, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é aumentar a produção em 20%, sobre o Brasil, recai uma expectativa dobrada - 40%.

Drone. Embrapa pesquisa avião não tripulado Foto: Clayton de Souza/Estadão Conteúdo

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"O agronegócio brasileiro tem sido convocado para atender à demanda mundial crescente de alimentos, fibras e energia. Paralelamente, a sociedade brasileira ainda conta com o agronegócio para controle da inflação, geração de divisas e para a continuidade do processo de redução da desigualdade de renda e da pobreza. O setor vem respondendo positivamente a esses múltiplos desafios", diz Geraldo Barros, coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

O grande protagonista do salto de produção, sem dúvidas, foi a tecnologia. "Houve uma expansão da área plantada no Brasil nos últimos anos, mas o que fez realmente a produção se destacar foi o crescimento da produtividade", diz André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult.

"É um conjunto de tecnologias aplicadas que vão desde a semente, com desenvolvimento de material genético adaptado às condições de produção da agricultura tropical brasileira, com uso adequado de fertilizantes e agroquímicos, até a renovação do parque de máquinas", diz Pêssoa. Hoje, o produtor tem se munido de plantadeiras, tratores e colheitadeiras muito mais eficientes, com uso de geolocalização por satélite - o que aumenta a precisão e controle sobre a produção.

"A inovação no agronegócio se deveu ao fato de que o produtor rural é um pesquisador. Ele desafia a natureza, testa variedades diferentes de sementes conforme o período e aprende rápido a operar tecnologia de mecânica de qualidade, como plantadeiras com GPS", exemplifica Mauro Lopes, coordenador de projetos do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Elísio Contini, chefe da Secretaria de Inteligência e Macroestratégia da Embrapa, também classifica a tecnologia como chave. "Embora não tão aprimoradas, tivemos políticas governamentais, como crédito para custeio e investimento, além de um 'socorro' quando necessário para a comercialização e uma infraestrutura mínima", diz. "Mas o fator tecnologico explica quase 70% da renda do produtor. Se não tiver tecnologia, nao adianta terra, não adianta nada."

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E os investimentos tecnológicos não param. O próximo paradigma do campo - já usado em mais de 200 lavouras no País, segundo pesquisa do Ibre/FGV - é o uso de equipamentos como drones, veículos aéreos não tripulados, para monitoramento da plantação. Eles são leves, pequenos e podem fazer imagens de resolução muito superior às de satélite. Outra novidade, ainda em laboratório, são os jipes-robôs que fazem análise química de qualquer amostra de solo ou cultura com uma simples emissão de laser.

Na fronteira dessas inovações no agronegócio estão instituições de pesquisa, como a Embrapa e a Esalq/USP. "As parcerias entre as instituições de pesquisa têm sido uma experiência exitosa no Brasil", diz Barros, do Cepea. "A Embrapa foi precursora nas parcerias público-privadas, com resultados concretos. As universidades também procuram manter estreito relacionamento com instituições representativas de empresas do agronegócio e de produtores rurais", afirma.

Para Contini, da Embrapa, as parcerias precisam ser fortalecidas. "A Embrapa colocou centros especializados em regiões estratégicas do Brasil, numa época em que o setor privado ainda não estava forte nos investimentos, como nas décadas de 80 e 90", diz. "Agora, procura parcerias mais estreitas com as empresas para apoiar os produtores. É um trabalho que vai levar duas ou três décadas e está só começando", diz. Ainda segundo a entidade, o Brasil aplica em pesquisa de 1,2% a 1,4% do PIB - metade do que em países desenvolvidos.

Assim, se em relação à tecnologia disponível não ficamos atrás de competidores como Estados Unidos, Europa e Ásia, sua disseminação por aqui ainda é limitada. "Ainda há muito produtor no Brasil com baixo nível de qualificação educacional e de treinamento", diz Pessôa. Ele afirma que, de 5,5 milhões de propriedades rurais no País, apenas 10% usam o que há de mais avançado tanto em tecnologia como em gestão de questões trabalhistas e ambientais - outro grande desafio para o setor.

"A maioria dos produtores rurais não participou desse processo de modernização. Eles precisam receber a devida prioridade do governo para promover sua inserção produtiva, através de políticas adequadas", diz Barros.

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