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Agronegócio busca nova imagem

Pressão internacional leva produtores de soja, carne e cana a criar associação para melhorar práticas ambientais e sociais

Por Andrea Vialli
Atualização:

Produtores de soja, carne e cana-de-açúcar se uniram para reagir à pressão internacional e adotar melhores práticas ambientais e sociais. Na semana passada, 19 organizações da agroindústria lançaram, em São Paulo, o Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares), que pretende orientar as empresas na busca por práticas mais sustentáveis. A criação da Ares é reflexo direto da pressão internacional sobre os produtores brasileiros. Há um ano, empresas consumidoras de soja assumiram o compromisso de não comprar por dois anos o grão produzido em áreas desmatadas da Amazônia. Grandes clientes europeus, como grupos varejistas e redes de restaurantes, passaram a boicotar a soja brasileira, apontada como responsável pela destruição da floresta. O boicote não trouxe grandes prejuízos porque ficou restrito a um número pequeno de clientes, mas assustou os produtores. Depois da chamada ''''moratória da soja'''' houve uma mudança de discurso no agronegócio. Os produtores começaram a discutir uma estratégia para enfrentar o problema. ''''Dentro de um mês, teremos um estudo com dez temas prioritários que impactam o agronegócio'''', diz Roberto Waack, presidente do conselho consultivo do Ares. ''''Questões trabalhistas, escravidão no campo, expansão da fronteira agrícola para áreas de mata nativa, grilagem de terras e esgotamento dos recursos hídricos são alguns dos temas delicados que o setor terá de cuidar'''', prevê. Além de tentar engajar produtores em sua campanha, as empresas do agronegócio estão investindo em certificações socioambientais como forma de resguardar o produto brasileiro de barreiras não tarifárias. Um exemplo é o GrünPass, selo do grupo alemão TÜV Rheinland lançado no Brasil há dois anos, em parceria com a IQS, empresa especializada em rastreabilidade de grãos. Atualmente, 6 fazendas produtoras de soja e 20 armazéns do Paraná e de Mato Grosso já têm o selo. Para obtê-lo, os produtores passam por auditorias que verificam itens como qualidade, cuidado ambiental e questões trabalhistas. ''''Quem se certifica são produtores e traders que vendem para os países europeus'''', diz Regina Toscano, da TÜV Rheinland. De olho no crescimento das exportações de etanol, a empresa lança, até o final deste mês, a certificação para biocombustíveis. O investimento em selos socioambientais, no entanto, pode não garantir mercados, diz Rodrigo Lima, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). ''''O protecionismo de alguns países pode vir disfarçado de preocupação socioambiental.'''' O recente embargo à carne brasileira por parte de países como a Irlanda é um exemplo. ''''O cuidado com as questões sanitárias sempre vai existir. E tende a crescer. Mas há uma diferença entre situar essas medidas num campo justo e praticar protecionismo.''''

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