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Economia e políticas públicas

Opinião|Ajuda dos serviços

IPCA-15 divulgado na quarta-feira trouxe uma ótima notícia para o Banco Central

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Atualização:

Em meio à ruína causada pela recessão que devasta a economia brasileira desde meados de 2014, e que só agora dá sinais mais consistentes de que está acabando, alguns poucos fatos positivos se destacam. Um deles é a virada positiva do setor externo, pela qual um déficit em conta corrente que chegou a mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) está caindo para próximo de zero este ano.

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Outro ganho do duro ajuste da economia brasileira, o principal de todos, é a queda da taxa de juros, inclusive em termos reais, isto é, descontada a inflação. Esse é um processo que acontece neste momento, e está umbilicalmente ligado à forte queda da inflação.

Na verdade, quando se toma a taxa de juros real “ex-post” do jargão dos economistas, isto é, quando se compara o juro praticado, por exemplo, nos últimos 12 meses com a inflação do período, a taxa é extremamente salgada. A explicação é simples: como a inflação foi muito menor do que se pensava, o juro real praticado no passado recente acabou sendo bem maior do que o imaginado.

Entretanto, quando se olha o juro real “ex-ante”, a comparação entre o juro e a inflação projetados para os próximos 12 meses, ou para outros prazos à frente, a tendência é de queda.

A explicação também é fácil. O Banco Central fixa a Selic, a taxa básica, que influencia toda a estrutura de juros da economia. O BC mexe na Selic pensando em duas coisas: inflação e ritmo da economia. Como a inflação caiu e está projetada abaixo da meta de 4,5% para 2017 e 2018, e a economia ainda se arrasta de forma muito lenta, tudo empurra o BC na direção de derrubar a Selic, e os juros vão para baixo com a taxa básica.

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Assim, já se imaginou que o atual ciclo de redução da Selic terminaria em 8% ou 8,5%, depois se começou a pensar em 7,5%, depois em 7% e essa onda ainda não terminou.

E agora surgiu mais uma boa notícia nessa história. Na quarta-feira, foi divulgado o IPCA-15 de agosto, que ficou em 0,35%. O IPCA-15 nada mais é que o IPCA, índice oficial da meta de inflação, com uma defasagem de 15 dias – útil, portanto, para se tentar antecipar o IPCA normal.

O resultado de agosto do IPCA-15 veio abaixo da mediana das projeções do mercado, de 0,4%. Esse é um fato positivo, mas muito melhor do que isso é o que aconteceu com a inflação de serviços. Os serviços são a maior parte da economia e os preços dos serviços são os que mais tipicamente reagem ao excesso ou à carência de demanda – exatamente aquilo em que o BC consegue interferir ao mexer na Selic.

Dessa forma, a maior e mais difícil parte da tarefa de controlar a inflação consiste, na verdade, em controlar a inflação de serviços.

Uma medida da inflação de serviços que depura ainda mais o núcleo mais sensível à demanda é aquela que retira do índice alguns dos seus componentes: as passagens aéreas, sujeitas a rápidas e enormes oscilações que poluem a tendência subjacente; a alimentação fora de casa, que é afetada pela variação do preço dos alimentos produzida pela oferta; e serviços ligados ao salário mínimo, que variam de acordo com um preço que é determinado por uma lei, e não pela demanda.

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A inflação de serviços acumulada em 12 meses, e depurada dos componentes acima, estava meio empacada, oscilando em torno de 5,5% há vários meses – uma preocupação para o BC, que poderia servir de motivação para pegar mais leve na redução da Selic. Mas no IPCA-15 de agosto aquela mesma medida (em 12 meses) caiu para 4,4%, abaixo da meta de inflação cheia de 4,5%.

Parte da explicação é que a inflação em agosto deste ano dos serviços no IPCA-15, eliminando-se aqueles itens, foi de apenas 0,1%, comparado a 0,64% do mesmo indicador em agosto de 2016.

Em outras palavras, depois de uma paradinha de arrumação, a inflação de serviços pode ter retomado a trajetória de queda. Bom para o Banco Central, bom para economia, bom para o País.

*COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV

Opinião por Fernando Dantas
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